terça-feira, 17 de julho de 2007


"A noite está estrelada,

e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu amei e por vezes ele também me amou.

Em noites como esta tive-o em meus braços.

Beijei-o tantas vezes sob o céu infinito.

Ele amou-me, por vezes eu também o amava.

Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não o tenho.

Sentir que já o perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ele.

E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-lo.

A noite está estrelada e ele não está comigo.

Isso é tudo.

Ao longe alguém canta.

Ao longe.

A minha alma não se contenta com havê-lo perdido.

Como para chegá-lo a mim o meu olhar procura-o.

O meu coração procura-o, ele não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.

Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.

Já não o amo, é verdade, mas tanto que o amei.

Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro.

Será de outro.

Como antes dos meus beijos.

A voz, o corpo claro.

Os seus olhos infinitos.

Já não o amo, é verdade,

mas talvez o ame ainda.

É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-o em meus braços,

a minha alma não se contenta por havê-lo perdido.

Embora seja a última dor que ele me causa,

e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Um comentário:

David Monsores disse...

Canção Desesperada, muito bom o que escreveu, Você e Neruda tem uma poesia em comum, o jeito de falar das coisas da vida.
Até mais minina!!