Eu sou antes como um desses bichos a quem arrancam as entranhas e meteram estopa de ilusão corpo a dentro para que pareçam vivos, e até alertas.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
Vou pra ibitipoca,
vou eu meus sonhos
minha doce vida...
levo no rosto um sorriso
e em meu coração
todos aqueles que gostariam
que fossem comigo...
digo mais,
que nesse próximo ano
eu possa estar mais perto
daqueles que tanto amo
e que minhas conquistas
sejem suas conquistas
e glórias...
deixo também um abraço
forte
e um até breve amigos
sábado, 15 de dezembro de 2007
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Agora
eu posso então sonhar
libertar-me em asas
e saber que as coisas
mesmo não sendo fáceis
são possíveis
Ouve o tempo
em que estive machucada
e me escondi dentro de mim
lambendo as feridas
que você deixou
Existiu o tempo necessário
para que elas se curassem
e as cicatrizes
agora são mínimas
diria mesmo
imperceptíveis
Aquele passado
morreu em um verão
onde as andorinhas
partiram
levando todo o nosso amor
e em seus ninhos
nasceram a vontade
de viver uma vida nova
E assim também nasceram
novos sonhos dentro de mim
Assim pude ver
que existem muitas pessoas
que são especiais
e que existe uma pessoa
para me mostrar
quanta mágica existe
no mundo
para cativar meu sorriso
Então,
bom dia moço,
eu,
e você
e nossas novas vidas...
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Não me peças para voltar
A um não saber olhar
Onde sempre fui sossegar
O sorriso de não sonhar
Sou feliz, hoje!
Com todos os senãos
Existentes em todas as belas
Histórias de amor
Os dias não são todos de sorrisos
Nem de lágrimas…
São dias de coragem
Nascida a cada manhã
Dias de luta
Que nem sempre
Mostram derrota
Nem sempre vitória
Mas hoje, sou feliz…
Feliz… Apenas comigo!
É assim que quero ser
Apenas de mim…
Manuela Fonseca
Minha Casa
É mais fácil
Cultuar os mortos
Que os vivos
Mais fácil viver
De sombras que de sóis
É mais fácil
Mimeografar o passado
Que imprimir o futuro...
Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
Lendo Maiakóvski
Na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo...
Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas
E não anda
Quero no escuro
Como um cego tatear
Estrelas distraídas...
Amoras silvestres
No passeio público
Amores secretos
Debaixo dos guarda-chuvas
Tempestades que não param
Pára-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem
Não posso parar
Veja o mundo passar
Como passa
Uma escola de samba
Que atravessa
Pergunto onde estão
Teus tamborins?
Pergunto onde estão
Teus tamborins?
Sentado na porta
De minha casa
A mesma e única casa
A casa onde eu sempre morei...
Zeca Baleiro
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
ABRAÇANDO O MUNDO
Eu queria poder envolver
o mundo com meus braços
Agarrá-lo com todas as minhas forças
e não deixá-lo jamais escapar
Queria poder gritar e expressar
o calor dentro de mim
o fervor, a inquietude
Exteriorizar o que sempre procurei esconder
Chega de pudor, de perder, de temer
A hora é de buscar os sonhos
esquecidos, perdidos, abandonados
De vencer os medos; o momento é de ousar
Quebrar as barreiras e gritar ao mundo
Eu quero ser OUVIDA, VIVIDA, USADA, AMADA
Uma mulher livre, liberta, libertada, libertária
O meu lado bela, o meu lado fera
E ai de quem não gostar
Eu quero não me lixar
Eu quero ser eu e mais nada.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Aonde você está
quando estou mais precisando
Eu não estou falando de ingratidão
eu só estou dizendo
que o seu silêncio está doendo
muito em mim
Aonde pensas que vai chegar
com teus jogos doentios
Deles eu sei muito bem
pois foi eu
que te ensinei a jogá-los
Estúpidos momentos
em que achavamos
ser um do outro
Agora veja aonde chegamos
Nossas vidas
de semi-árido
Tuas lágrimas não chegam aqui
mas sinto no vento
o úmido dos teus olhos
Olhos tão meus
que já nem podem me encarar
Tudo em nossa vida virou pecado
Nós que somos traidores
de nós mesmos
Nossos corações em ruínas
nunca mais serão restaurados
dizem muitos
E nossas vidas
rumos tão diferentes
nunca mais irão se encontrar
Então você consegue ouvir
meus gritos de dor
nas noites de relâmpago
e trovões
Consegue sentir na boca
o gosto amargo de minhas desilusões
Pois apesar das asas
eu nunca mais irei voar
pois elas precisam dos sonhos
para a liberdade do vôo
Então tudo está morto agora
Não venha me dizer que
isso vai passar
Pois só está começando...
terça-feira, 27 de novembro de 2007
O BÚFALO
Mas era primavera. Até o leão lambeu a testa glabra da leoa. Os dois animais louros. A mulher desviou os olhos da jaula, onde só o cheiro quente lembrava a carnificina que ela viera buscar no Jardim Zoológico. Depois o leão passeou enjubado e tranqüilo, e a leoa lentamente reconstituiu sobre as patas estendidas a cabeça de uma esfinge. "Mas isso é amor, é amor de novo", revoltou-se a mulher tentando encontrar-se com o próprio ódio mas era primavera e dois leões se tinham amado. Com os punhos nos bolsos do casaco, olhou em torno de si, rodeada pelas jaulas, enjaulada pelas jaulas fechadas. Continuou a andar. Os olhos estavam tão concentrados na procura que sua vista às vezes se escurecia num sono, e então ela se refazia como na frescura de uma cova.
Mas a girafa era uma virgem de tranças recém-cortadas. Com a tola inocência do que é grande e leve e sem culpa. A mulher do casaco marrom desviou os olhos, doente, doente. Sem conseguir — diante da aérea girafa pousada, diante daquele silencioso pássaro sem asas — sem conseguir encontrar dentro de si o ponto pior de sua doença, o ponto mais doente, o ponto de ódio, ela que fora ao Jardim Zoológico para adoecer. Mas não diante da girafa que mais era paisagem que um ente. Não diante daquela carne que se distraíra em altura e distância, a girafa quase verde. Procurou outros animais, tentava aprender com eles a odiar. O hipopótamo, o hipopótamo úmido. O rolo roliço de carne, carne redonda e muda esperando outra carne roliça e muda. Não. Pois havia tal amor humilde em se manter apenas carne, tal doce martírio em não saber pensar. Mas era primavera, e, apertando o punho no bolso do casaco, ela mataria aqueles macacos em levitação pela jaula, macacos felizes como ervas, macacos se entrepulando suaves, a macaca com olhar resignado de amor, e a outra macaca dando de mamar. Ela os mataria com quinze secas balas: os dentes da mulher se apertaram até o maxilar doer. A nudez dos macacos. O mundo que não via perigo em ser nu. Ela mataria a nudez dos macacos. Um macaco também a olhou segurando as grades, os braços descarnados abertos em crucifixo, o peito pelado exposto sem orgulho. Mas não era no peito que ela mataria, era entre os olhos do macaco que ela mataria, era entre aqueles olhos que a olhavam sem pestanejar. De repente a mulher desviou o rosto: é que os olhos do macaco tinham um véu branco gelatinoso cobrindo a pupila, nos olhos a doçura da doença, era um macaco velho — a mulher desviou o rosto, trancando entre os dentes um sentimento que ela não viera buscar, apressou os passos, ainda voltou a cabeça espantada para o macaco de braços abertos: ele continuava a olhar para a frente. "Oh não, não isso", pensou. E enquanto fugia, disse: "Deus, me ensine somente a odiar."
"Eu te odeio", disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. "Eu te odeio", disse muito apressada. Mas não sabia sequer como se fazia. Como cavar na terra até encontrar a água negra, como abrir passagem na terra dura e chegar jamais a si mesma? Andou pelo Jardim Zoológico entre mães e crianças. Mas o elefante suportava o próprio peso. Aquele elefante inteiro a quem fora dado com uma simples pata esmagar. Mas que não esmagava. Aquela potência que no entanto se deixaria docilmente conduzir a um circo, elefante de crianças. E os olhos, numa bondade de velho, presos dentro da grande carne herdada. O elefante oriental. Também a primavera oriental, e tudo nascendo, tudo escorrendo pelo riacho.
A mulher então experimentou o camelo. O camelo em trapos, corcunda, mastigando a si próprio, entregue ao processo de conhecer a comida. Ela se sentiu fraca e cansada, há dois dias mal comia. Os grandes cílios empoeirados do camelo sobre olhos que se tinham dedicado à paciência de um artesanato interno. A paciência, a paciência, a paciência, só isso ela encontrava na primavera ao vento. Lágrimas encheram os olhos da mulher, lágrimas que não correram, presas dentro da paciência de sua carne herdada. Somente o cheiro de poeira do camelo vinha de encontro ao que ela viera: ao ódio seco, não a lágrimas. Aproximou-se das barras do cercado, aspirou o pó daquele tapete velho onde sangue cinzento circulava, procurou a tepidez impura, o prazer percorreu suas costas até o mal-estar, mas não ainda o mal-estar que ela viera buscar. No estômago contraiu-se em cólica de fome a vontade de matar. Mas não o camelo de estopa. "Oh Deus, quem será meu par neste mundo?"
Então foi sozinha ter a sua violência. No pequeno parque de diversões do Jardim Zoológico esperou meditativa na fila de namorados pela sua vez de se sentar no carro da montanha-russa. E ali estava agora sentada, quieta no casaco marrom. O banco ainda parado, a maquinaria da montanha-russa ainda parada. Separada de todos no seu banco, parecia estar sentada numa Igreja. Os olhos baixos viam o chão entre os trilhos. O chão onde simplesmente por amor — amor, amor, não o amor! — onde por puro amor nasciam entre os trilhos ervas de um verde leve tão tonto que a fez desviar os olhos em suplício de tentação. A brisa arrepiou-lhe os cabelos da nuca, ela estremeceu recusando, em tentação recusando, sempre tão mais fácil amar.
Mas de repente foi aquele vôo de vísceras, aquela parada de um coração que se surpreende no ar, aquele espanto, a fúria vitoriosa com que o banco a precipitava no nada e imediatamente a soerguia como uma boneca de saia levantada, o profundo ressentimento com que ela se tornou mecânica, o corpo automaticamente alegre — o grito das namoradas! — seu olhar ferido pela grande surpresa, a ofensa, "faziam dela o que queriam", a grande ofensa — o grito das namoradas! — a enorme perplexidade de estar espasmodicamente brincando faziam dela o que queriam, de repente sua candura exposta. Quantos minutos? os minutos de um grito prolongado de trem na curva, e a alegria de um novo mergulho no ar insultando-a com um pontapé, ela dançando descompassada ao vento, dançando apressada, quisesse ou não quisesse o corpo sacudia-se como o de quem ri, aquela sensação de morte às gargalhadas, morte sem aviso de quem não rasgou antes os papéis da gaveta, não a morte dos outros, a sua, sempre a sua. Ela que poderia ter aproveitado o grito dos outros para dar seu urro de lamento, ela se esqueceu, ela só teve espanto.
E agora este silêncio também súbito. Estavam de volta à terra, a maquinaria de novo inteiramente parada.
Pálida, jogada fora de uma Igreja, olhou a terra imóvel de onde partira e aonde de novo fora entregue. Ajeitou as saias com recato. Não olhava para ninguém. Contrita como no dia em que no meio de todo o mundo tudo o que tinha na bolsa caíra no chão e tudo o que tivera valor enquanto secreto na bolsa, ao ser exposto na poeira da rua, revelara a mesquinharia de uma vida íntima de precauções: pó de arroz, recibo, caneta-tinteiro, ela recolhendo no meio-fio os andaimes de sua vida. Levantou-se do banco estonteada como se estivesse se sacudindo de um atropelamento. Embora ninguém prestasse atenção, alisou de novo a saia, fazia o possível para que não percebessem que estava fraca e difamada, protegia com altivez os ossos quebrados. Mas o céu lhe rodava no estômago vazio; a terra, que subia e descia a seus olhos, ficava por momentos distante, a terra que é sempre tão difícil. Por um momento a mulher quis, num cansaço de choro mudo, estender a mão para a terra difícil: sua mão se estendeu como a de um aleijado pedindo. Mas como se tivesse engolido o vácuo, o coração surpreendido. Só isso? Só isto. Da violência, só isto.
Recomeçou a andar em direção aos bichos. O quebranto da montanha-russa deixara-a suave. Não conseguiu ir muito adiante: teve que apoiar a testa na grade de uma jaula, exausta, a respiração curta e leve. De dentro da jaula o quati olhou-a. Ela o olhou. Nenhuma palavra trocada. Nunca poderia odiar o quati que no silêncio de um corpo indagante a olhava. Perturbada, desviou os olhos da ingenuidade do quati. O quati curioso lhe fazendo uma pergunta como uma criança pergunta. E ela desviando os olhos, escondendo dele a sua missão mortal. A testa estava tão encostada às grades que por um instante lhe pareceu que ela estava enjaulada e que um quati livre a examinava.
A jaula era sempre do lado onde ela estava: deu um gemido que pareceu vir da sola dos pés. Depois outro gemido.
Então, nascida do ventre, de novo subiu, implorante, em onda vagarosa, a vontade de matar — seus olhos molharam-se gratos e negros numa quase felicidade, não era o ódio ainda, por enquanto apenas a vontade atormentada de ódio como um desejo, a promessa do desabrochamento cruel, um tormento como de amor, a vontade de ódio se prometendo sagrado sangue e triunfo, a fêmea rejeitada espiritualizara-se na grande esperança. Mas onde, onde encontrar o animal que lhe ensinasse a ter o seu próprio ódio? o ódio que lhe pertencia por direito mas que em dor ela não alcançava? Onde aprender a odiar para não morrer de amor? E com quem? O mundo de primavera, o mundo das bestas que na primavera se cristianizam em patas que arranham mas não dói... oh não mais esse mundo! não mais esse perfume, não esse arfar cansado, não mais esse perdão em tudo o que um dia vai morrer como se fora para dar-se. Nunca o perdão, se aquela mulher perdoasse mais uma vez, uma só vez que fosse, sua vida estaria perdida — deu um gemido áspero e curto, o quati sobressaltou-se — enjaulada olhou em torno de si, e como não era pessoa em quem prestassem atenção, encolheu-se como uma velha assassina solitária, uma criança passou correndo sem vê-la.
Recomeçou então a andar, agora pequena, dura, os punhos de novo fortificados nos bolsos, a assassina incógnita, e tudo estava preso no seu peito. No peito que só sabia resignar-se, que só sabia suportar, só sabia pedir perdão, só sabia perdoar, que só aprendera a ter a doçura da infelicidade, e só aprendera a amar, a amar, a amar. Imaginar que talvez nunca experimentasse o ódio de que sempre fora feito o seu perdão, fez seu coração gemer sem pudor, ela começou a andar tão depressa que parecia ter encontrado um súbito destino. Quase corria, os sapatos a desequilibravam, e davam-lhe uma fragilidade de corpo que de novo a reduzia a fêmea de presa, os passos tomaram mecanicamente o desespero implorante dos delicados, ela que não passava de uma delicada. Mas, pudesse tirar os sapatos, poderia evitar a alegria de andar descalça? Como não amar o chão em que se pisa? Gemeu de novo, parou diante das barras de um cercado, encostou o rosto quente no enferrujado frio do ferro. De olhos profundamente fechados procurava enterrar a cara entre a dureza das grades, a cara tentava uma passagem impossível entre barras estreitas, assim como antes vira o macaco recém-nascido buscar na cegueira da fome o peito da macaca. Um conforto passageiro veio-lhe do modo como as grades pareceram odiá-la opondo-lhe a resistência de um ferro gelado.
Abriu os olhos devagar. Os olhos vindos de sua própria escuridão nada viram na desmaiada luz da tarde. Ficou respirando. Aos poucos recomeçou a enxergar, aos poucos as formas foram se solidificando, ela cansada, esmagada pela doçura de um cansaço. Sua cabeça ergueu-se em indagação para as árvores de brotos nascendo, os olhos viram as pequenas nuvens brancas. Sem esperança, ouviu a leveza de um riacho. Abaixou de novo a cabeça e ficou olhando o búfalo ao longe. Dentro de um casaco marrom, respirando sem interesse, ninguém interessado nela, ela não interessada em ninguém.
Certa paz enfim. A brisa mexendo nos cabelos da testa como nos de pessoa recém-morta, de testa ainda suada. Olhando com isenção aquele grande terreno seco rodeado de grades altas, o terreno do búfalo. O búfalo negro estava imóvel no fundo do terreno. Depois passeou ao longe com os quadris estreitos, os quadris concentrados. O pescoço mais grosso que as ilhargas contraídas. Visto de frente, a grande cabeça mais larga que o corpo impedia a visão do resto do corpo, como uma cabeça decepada. E na cabeça os cornos. De longe ele passeava devagar com seu torso. Era um búfalo negro. Tão preto que à distancia a cara não tinha traços. Sobre o negror a alvura erguida dos cornos.
A mulher talvez fosse embora mas o silêncio era bom no cair da tarde.
E no silêncio do cercado, os passos vagarosos, a poeira seca sob os cascos secos. De longe, no seu calmo passeio, o búfalo negro olhou-a um instante. No instante seguinte, a mulher de novo viu apenas o duro músculo do corpo. Talvez não a tivesse olhado. Não podia saber, porque das trevas da cabeça ela só distinguia os contornos. Mas de novo ele pareceu tê-la visto ou sentido. A mulher aprumou um pouco a cabeça, recuou-a ligeiramente em desconfiança. Mantendo o corpo imóvel, a cabeça recuada, ela esperou.
E mais uma vez o búfalo pareceu notá-la.
Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira, desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore. Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos. O búfalo deu outra volta lenta. A poeira. A mulher apertou os dentes, o rosto todo doeu um pouco.
O búfalo com o torso preto. No entardecer luminoso era um corpo enegrecido de tranqüila raiva, a mulher suspirou devagar. Uma coisa branca espalhara-se dentro dela, branca como papel, fraca como papel, intensa como uma brancura. A morte zumbia nos seus ouvidos. Novos passos do búfalo trouxeram-na a si mesma e, em novo longo suspiro, ela voltou à tona. Não sabia onde estivera. Estava de pé, muito débil, emergida daquela coisa branca e remota onde estivera. E de onde olhou de novo o búfalo.
O búfalo agora maior. O búfalo negro. Ah, disse de repente com uma dor. O búfalo de costas para ela, imóvel. O rosto esbranquiçado da mulher não sabia como chamá-lo. Ah! disse provocando-o. Ah! disse ela. Seu rosto estava coberto de mortal brancura, o rosto subitamente emagrecido era de pureza e veneração. Ah! instigou-o com os dentes apertados. Mas de costas para ela, o búfalo inteiramente imóvel.
Apanhou uma pedra no chão e jogou para dentro do cercado. A imobilidade do torso, mais negra ainda se aquietou: a pedra rolou inútil.
Ah! disse sacudindo as barras. Aquela coisa branca se espalhava dentro dela, viscosa como uma saliva. O búfalo de costas.
Ah, disse. Mas dessa vez porque dentro dela escorria enfim um primeiro fio de sangue negro. O primeiro instante foi de dor. Como se para que escorresse este sangue se tivesse contraído o mundo. Ficou parada, ouvindo pingar como numa grota aquele primeiro óleo amargo, a fêmea desprezada. Sua força ainda estava presa entre barras, mas uma coisa incompreensível e quente, enfim incompreensível, acontecia, uma coisa como uma alegria sentida na boca. Então o búfalo voltou-se para ela.
O búfalo voltou-se, imobilizou-se, e à distância encarou-a.
Eu te amo, disse ela então com ódio para o homem cujo grande crime impunível era o de não querê-la. Eu te odeio, disse implorando amor ao búfalo.
Enfim provocado, o grande búfalo aproximou-se sem pressa.
Ele se aproximava, a poeira erguia-se. A mulher esperou de braços pendidos ao longo do casaco. Devagar ele se aproximava. Ela não recuou um só passo. Até que ele chegou às grades e ali parou. Lá estavam o búfalo e a mulher, frente à frente. Ela não olhou a cara, nem a boca, nem os cornos. Olhou seus olhos.
E os olhos do búfalo, os olhos olharam seus olhos. E uma palidez tão funda foi trocada que a mulher se entorpeceu dormente. De pé, em sono profundo. Olhos pequenos e vermelhos a olhavam. Os olhos do búfalo. A mulher tonteou surpreendida, lentamente meneava a cabeça. O búfalo calmo. Lentamente a mulher meneava a cabeça, espantada com o ódio com que o búfalo, tranqüilo de ódio, a olhava. Quase inocentada, meneando uma cabeça incrédula, a boca entreaberta. Inocente, curiosa, entrando cada vez mais fundo dentro daqueles olhos que sem pressa a fitavam, ingênua, num suspiro de sono, sem querer nem poder fugir, presa ao mútuo assassinato. Presa como se sua mão se tivesse grudado para sempre ao punhal que ela mesma cravara. Presa, enquanto escorregava enfeitiçada ao longo das grades. Em tão lenta vertigem que antes do corpo baquear macio a mulher viu o céu inteiro e um búfalo.
--------------------------------------------------------------------------------
Clarice Lispector, In "Laços de família" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
A VERDADE SOBRE O HOMEM DE HOJE
Nós bebemos demais,
Fumamos demais,
Gastamos sem critérios.
Dirigimos rápido demais,
Ficamos acordados até muito tarde,
Acordamos muito cansados,
Lemos muito pouco,
Assistimos TV demais e rezamos raramente.
Multiplicamos nossos bens,
mas reduzimos nossos valores.
Nós falamos demais, amamos raramente,
odiamos freqüentemente.
Aprendemos a sobreviver, mas não a viver;
Adicionamos anos à nossa vida, e não vida aos nossos anos.
Fomos e voltamos à Lua,
mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar o nosso
vizinho.
Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.
Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.
Limpamos o ar, mas poluímos a alma;
Dominamos o átomo, mas não os nossos preconceitos;
Escrevemos mais, mas aprendemos menos
Planejamos mais, mas realizamos menos.
Aprendemos a nos apressar, e não a esperar.
Construímos mais computadores para armazenar mais
informação, Produzir mais cópias do que nunca, mas nos
comunicamos menos. Estamos na era do 'fast-food' e da
digestão lenta; do homem grande de caráter pequeno;
dos lucros acentuados e relações vazias.
Essa é a "era" de dois empregos, vários divórcios,
casas chiques e lares despedaçados.
Essa é a "era" das viagens rápidas,
fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas,
dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.
Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na
dispensa. Lembre-se de passar mais tempo com as
pessoas que ama, pois elas não estarão aqui para sempre.
Nem você. Lembre-se de dar um abraço carinhoso num amigo,
pois não lhe custa um centavo sequer.Lembre-se de dizer
'eu te amo' à sua companheira (o) e às pessoas que ama,
mas, em primeiro lugar, se ame... se ame mu ito.Um beijo e
um abraço curam a dor, quando vêm de lá de dentro.Por isso
valorize as pessoas que estão ao seu lado, SEMPRE. Se eu
estiver enganado quanto a você e sua maneira de viver e de
ver a vida, então desconsidere essa mensagem e boa viagem
as suas crenças. Caso contrário, reflita e mude,
embarcando nessa forma inteligente de ser Homem racional e
de verdade. Eu acredito que você é capaz!!!
www.intertaxi.com.br
sábado, 24 de novembro de 2007
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
UM POEMA PARA MIM MESMA
Desde já adianto
Isso não é um poema
e eu não sou eu mesma
Sou bi-tri-polar
e às vezes
falo mentiras
à mim mesma
E acredito nela
e me apaixono por elas,
por mim, e por você
E amanheço em um belo dia
depois de uma noite
de sonhos deletéricos
e tenho medo
tenho em toda sua essência
Mas eles estão
no ponto cego de minha alma
quase nunca percebo
Então,
monto no cavalo da coragem
E hoje vou visitar
a outra parte de mim mesma
Me espere...
Me espera que
eu estou chegando.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
domingo, 18 de novembro de 2007
MEU BLOG ANDA ABANDONADO
EU ANDO ABANDONADA...
DIZ UMA AMIGA MINHA
QUE QUANDO ISSO ACONTECE
É PORQUE INCONSCIENTEMENTE
QUEREMOS ESTAR SÓS
OU DESPREPARADAS
PARA UMA APROXIMAÇÃO
PARA O AMOR???
ENTÃO PORQUE AS LÁGRIMAS
OU A ESPERA DE UMA LIGAÇÃO???
ANDO POR AI
OLHANDO,
PROCURANDO ALGUÉM...
NÃO QUERO AMARRAS
QUERO ALGUÉM
PRA DIZER QUE O DIA HOJE FOI PESADO
MAS QUE,
APESAR DE TUDO
POSSAMOS JUNTOS
VER AS ESTRELAS
E SENTIR A LUA CHEGANDO
TUDO ISSO DE MÃOS DADAS
E SILÊNCIO...
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Eu não nasci linda,
tão longe disso passei...
Não tenho cabelos lisos
nem uma pele vistosa,
que aliás já tem até rugas
tenho o corpo marcado
pelas brincadeiras juvenís
coleção de esfolações
assim como meu coração
oh meu deos,
como fui pisada!!!
Tenho alma de menina,
e pouca postura de mulher
acho que me demorarei
para o tal amadurecimento...
Não tenho voz de cantora
mais canto assim mesmo
também não sou muito inteligente
ou intelectual
mas gosto de brincar de ser...
Não sou alto confiante
pois a segurança sempre
me escapa por entre os dedos....
sou doce
com medo de ser pegajosa
sou incostante
com miasias que me devoram
sou preguiçosa
e desorganizada
Também sou escandalosa
quando preciso
e quando estou embriagada
Ás vezes posso ferir
as pessoas com palavras prepotentes
e depois sangro sozinha...
Sou espera constante por aquele
que nunca vêm
e acredito ainda em contos-de-fada
(que idiota sou!!!)
e quase sempre vivo em um mundo
só meu - o da subjetividade
Também eu sou
o legado de meu pai
e os estigmas de minha mãe
sou o silêncio do carinho omitido
e o reconhecimento da luta
que os acompanharão
para o resto de suas vidas
e da minha também.
Eu sou o meu silêncio...
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
EU, MODO DE USAR:
Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Quero ver você nervoso, inquieto, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!
Martha Medeiros
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Absurdo
Vanessa Da Mata
Havia tanto pra lhe contar
A natureza
Mudava a forma o estado e o lugar
Era absurdo
Havia tanto pra lhe mostrar
Era tão belo
Mas olhe agora o estrago em que está
Tapetes fartos de folhas e flores
O chão do mundo se varre aqui
Essa idéia do natural ser sujo
Do inorgânico não se faz
Destruição é reflexo do humano
Se a ambição desumana o Ser
Essa imagem de infértil deserto
Nunca pensei que chegasse aqui
Auto-destrutivos,
Falsas vitimas nocivas?
Havia tanto pra aproveitar
Sem poderio
Tantas histórias, tantos sabores
Capins dourados
Havia tanto pra respirar
Era tão fino
Naqueles rios a gente banhava
Desmatam tudo e reclamam do tempo
Que ironia conflitante ser
Desequilíbrio que alimenta as pragas
Alterado grão, alterado pão
Sujamos rios, dependemos das águas
Tanto faz os meios violentos
Luxúria é ética do perverso vivo
Morto por dinheiro
Cores, tantas cores
Tais belezas
Foram-se
Versos e estrelas
Tantas fadas que eu não vi
Falsos bens, progresso?
Com a mãe, ingratidão
Deram o galinheiro
Pra raposa vigiar
Eu te amo tanto como se estivesse dizendo adeus.
Quando estou só demais,
uso guisos ao redor dos tornozelos e dos pulsos.
Então quase cada um dos meus pensamentos se
externam e voltam para mim como respostas.
Minha mais tênue energia faz com que eles
logo vibrem estremecendo em luz e som.
Eu tenho medo de de repente pensar
uma coisa nova demais para mim mesma.
Falar alto sozinha e para "o quê"
é dirigir-se ao mundo, é criar uma voz potente
que consegue o "o quê".
"O quê" é o sagrado sacro do universo.
clarice lispector
eu nasci amalgamada com a solidão
deste exato instante e que se prolonga tanto,
e tão funda é, que já não é minha solidão
mas a Solidão de Deus.
Alcancei afinal o momento em que nada existe.
Nem um carinho de mim pra mim:
a solidão é essa a do deserto.
O vento como companhia.
Ah, mas que frio esta fazendo.
Cubro-me com a melancolia suave,
e balanço daqui pra lá, daqui pra lá, daqui pra lá.
Assim. É! É assim mesmo.
clarice lispector
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
estou muito frágil
e peço que tome cuidado com as coisas
das quais escrevo
tenho medo de ser mal interpretada
e parecer que estou com uma navalha na mão
me sinto e expresso com uma tal gravidade
que é propria de mim
e coloro o cotidiano
com minha escuridão
sim,
pois sou um misto de luz e escuridão
e elas se manifestam
em horas não definidas
com intensidades catastróficas!
haverá alguém pra entender?
ou melhor,
pra me dar a mão
e me trazer a tona pra respirar???
hoje a noite
sei que ela me espera
em meu quarto
já cedo chama meu nome
mas eu ignoro
e tento escutar o canto dos pássaros
e vejo no olhar daquele
homem faminto,
que sou faminta de alma...
passam horas
que me são roubadas
como os pensamentos
também são
e ladram todos os cães
eu já os ouço implorando
pois eu agora
também à espero
acendo meu cigarro
e ouço as músicas
que já não mais despertam
amor, nem dor...
e mais um cigarro
e lá vêm ela
toda mistério
toda silêncio
com seu olhar inquisitor
vêm explorar meus vazios
ela que pra ser criada
vêm roubado minhas manhãs
e tempestades
ela que precisa de missa
e de suas redenções
ela que és metade minha
eu, seu desespero
por coninuar viva
eu que sou toda
biológica
e ela, trasmutação...
terça-feira, 6 de novembro de 2007
está tudo doendo demais
a vida esta despejando
coisas demais em mim...
fico pensando que às vezes
busco tão fortemente
me sentir triste
quando não há motivo algum
e quando acontece algo de concreto
sou apenas papelão na chuva
me deteriorando e despedaçando lenta e dolorosamente
aquela dor
situada na garganta
onde não passa choro
água, comida
e nem mesmo respiração...
e na cabeça
colapsos e raios
e aquela vontade de perder as forças
cair na rua
e tem um ataque epilético...
e mesmo assim
as pessoas entenderiam???
e mesmo assim
entenderiam???
será mesmo necessário
que elas entendam???
eu acho que não...
todas as coisas neste mundo
acontecem, e continuarão
independente de entendermos ou não...
várias coisas dentro de nós
assim como as ondas do mar
avançam, e recuam
sem podermos deter
uma só gota
por entre nossos dedos...
então o que é realmente necessário
para sermos felizes???
será casas, terras e dinheiro
ou será a dignidade e o amor
que vemos
refletidos nós olhos
de alguém a quem muitos
chamam de sô zezim???
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Eu sou sozinha no mundo,
e não acredito em ninguém,
todos mentem,
as vezes até na hora do amor,
não sei porque mentem, mas mentem...
e também não me interessa mais saber porque todos mentem;
e a verdade só me vem quando estou sozinha,
a verdade só existe quando estou sozinha,
a verdade é que eu sou sozinha...
Silvia2007
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Estive pensando
e surgiu uma idéia
-Vamos ser felizes hoje?
Ser mais livres
Sorrir mais
Deixar de ficar preso
ao tempo
e as pessoas que não
vêem em ti
tua verdadeira beleza
e não a amam
Pois simplesmente
elas não conhecem ao amor
Pois, quem não se ama
não se conhece
E todas as emoções
passam em branco
Simples fantóches
do acaso
Quanto a mim
não te imploro
nem ao menos estou no chão
Estou simplesmente aqui
te oferecendo a maça
do bem querer
e dos doces deletérios...
Por mais um dia
tudo parece parado
Antes de dormir
Acendo um cigarro
Tento silenciar, em vão
a outra em minha cabeça
Fecho os olhos
de leve
Sono sem sonhos
noite se lua
E nesse calor noturno
Abro a janela
para deixar entrar
o novo dia
vestido em suas roupas solares
e cortejado pelos pássaros
que sempre festejam a aurora
e seus muitos mistérios cálidos
E fico aqui
meio insone
Envolto em pensamentos
e desejos dispersos
Sei que vou chamar você
Sinto você chegando
com seus passos firmes
e seguros
Ultrapassando a porta
E deitando ao meu lado
Envolvendo seu corpo ao meu
Respiração leve e morna
Cheiro de relva
Canta baixinho
Enquanto fecho meus olhos
para adormecer novamente
Eu que só sei
dormir de conchinha...
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
EXISTÊNCIA
Existência
Ele que surge
Ela que morre
Dor,dor,dor
Mas um que nasce
nova existência
no planeta caos
Ele corre,corre
em um capo florido
em um campo de concentração
É uma festa
Fogos de artifício
dezimando toda
uma nação
Somos inocentes
talvez...
Olhamos para o céu
Estrelas caindo
a morte chegando
Mas não há perigo aqui
Até quando,
Até quando
Você não irá se comunicar
Planeta marte?
Me diga de onde vêm as pirâmides
Me leve pra lá
Oh deos!
De onde virá o sinal?
Porque tanto desespero
e lágrimas, lágrimas
Sentimento rasgando me peito
Rolando em gotas salgadas
Pelo me rosto
Até morrer
na praia
Sem poder sentir o mar
Vinte anos depois: Diante do Lago Baikal II
Vejo a água correndo, já são cinco horas da tarde. Acompanho o pequeno riacho, até ele encontrar-se com um dos lugares mais bonitos da terra: o lago Baikal, na Sibéria. “Um rio nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar” diz um filósofo. “A vida é como um rio”, diz outro filósofo, e chegamos a conclusão que esta é a metáfora mais próxima do significado da vida.
Mas hoje acabo de descobrir algo diferente: existe um rio dentro do rio; é ele que mostra o caminho a seguir, é a alma das águas que estão ao meu lado, nesta pequena aldeia onde ainda podemos ver um poço, e os habitantes que chegam até o lugar para pegar água. Há quanto tempo não vejo um poço de verdade, que dá de beber a todo um vilarejo?
Contemplo de novo o rio, procuro ser como ele, e vejo as lições que está me ensinando agora:
A] Sempre estamos diante da primeira vez. Enquanto nos movimentamos entre a nossa nascente (o nascimento) ao nosso destino (morte), as paisagens serão sempre novas. Devemos encarar todas estas novidades com alegria, e não com medo – porque é inútil temer o que não se pode evitar. Um rio não deixa de correr jamais.
B] Em um vale, andamos mais devagar. Quando tudo à nossa volta fica mais fácil, as águas se acalmam, nos tornamos mais amplos, mais largos, mais generosos.
C] Nossas margens sempre são férteis. A vegetação só nasce onde existe água. Quem entra em contato conosco, precisa entender que estamos ali para dar de beber a quem tem sede.
D] As pedras precisam ser contornadas. Evidente que a água é mais forte que o granito, mas para isso é preciso tempo. Não adianta deixar-se dominar por obstáculos mais fortes, ou tentar bater-se contra eles; gastaremos energia a toa. O melhor é entender por onde se encontra a saída, e seguir adiante.
E] As depressões necessitam paciência. De repente o rio entra em uma espécie de buraco, e pára de correr com a alegria de antes. Nestes momentos, a única maneira de sair é contar com a ajuda do tempo. Quando chegar o momento certo, a depressão se enche, e a água pode seguir adiante. No lugar do buraco feio e sem vida, agora existe um lago que outros podem contemplar com alegria.
F] Somos únicos. Nascemos em um lugar que estava destinado para nós, que nos manterá sempre alimentados de água o suficiente para que, diante de obstáculos ou depressões, possamos ter a paciência ou a força necessárias para seguir adiante. Começamos nosso curso de maneira suave, frágil, onde até mesmo uma simples folha pode parar nosso curso. Entretanto, como respeitamos o mistério da fonte que nos gerou, e confiamos em sua Eterna sabedoria, aos poucos vamos ganhando tudo que nos é necessário para percorrer nosso caminho.
G] Embora sejamos únicos, em breve seremos muitos. A medida que caminhamos, as águas de outras nascentes se aproximam, porque aquele é o melhor caminho a seguir. Então já não somos apenas um, mas muitos – e há um momento em que nos sentimos perdidos. Entretanto, como diz a Bíblia, “todos os rios correm para o mar”. É impossível permanecer em nossa solidão, por mais romântica que ela possa parecer. Quando aceitamos o inevitável encontro com outras nascentes, terminamos por entender que isso nos faz muito mais fortes, contornamos os obstáculos ou preenchemos as depressões em muito menos tempo, e com muito mais facilidade.
H] Somos um meio de transporte. De folhas, de barcos, de idéias. Que nossas águas sejam sempre generosas, que possamos sempre levar adiante todas as coisas ou pessoas que precisarem de nossa ajuda.
I] Somos uma fonte de inspiração. E portanto, deixemos para um poeta brasileiro, Manuel Bandeira, as palavras finais:
“Ser como um rio que flui
Silencioso no meio da noite
Não temer as trevas da noite
Se há estrelas no céu, refleti-las.
E se o céu se enche de nuvens
Como o rio, as nuvens são água;
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranqüilas.”
Conta-se que um inglês, em visita à Turquia no século XVIII, teria feito a seguinte afirmação: “aqui pode-se brigar, censurar, mandar cartas de paixão, amizade ou civilidade, ou mesmo notícias, sem nunca ter de sujar os dedos com tinta!”. O “código dos turcos” era o uso de flores para expressar sentimentos. Cada espécie tinha um significado e uma “carta” bem feita podia comunicar praticamente qualquer combinação de sentimentos.
Esse curioso costume teria logo chegado à França, onde “inventou-se” uma linguagem composta inteiramente de símbolos florais. Publicada em 1819, como Le Langage des Fleurs, tornou-se uma das referências favoritas. A nova linguagem das flores atraiu os poetas românticos na Inglaterra. “Doces flores sozinhas podem dizer o que a paixão tem medo de revelar”, disse o porta Thomas Hood (1799-1845) no poema “A Linguagem das Flores”.
Na era vitoriana, a linguagem tornou-se mais complexa. As flores não só significavam diferentes sentimentos, mas a maneira como eram oferecidas e aceitas podia significar alguma coisa. Uma simples rosa vermelha aberta era sinal de admiração pela beleza feminina. Contudo, oferecer um botão com espinhos e folhas queria dizer: “Temo, porém com esperança”. Se a destinatária respondesse recatadamente com o botão virado para baixo, o gesto queria dizer: “Não deves temer, nem ter esperança “. Se a jovem pusesse a flor recebida nos cabelos, o gesto significava cautela, mas se a colocasse sobre o coração, significava que o amor era correspondido.
Eternos símbolos do amor, as rosas ganharam até uma “linguagem” própria: dizem que a cor das suas pétalas também levam mensagens. As vermelhas simbolizam as emoções apaixonadas, as cor-de-rosa estariam ligadas aos amores sublimes, as brancas ao amor puro e incondicional, mas as amarelas são misteriosas - uns dizem que simbolizam o ciúme, enquanto outros afirmam que estão ligadas aos amores afortunados. É interessante também que até a forma de arrumar as rosas nos vasos pode expressar sentimentos: uma única rosa num vaso demonstra elegância e intimidade; várias delas, formando arranjos grandes e compactos inspiram alegria e confraternização.
Assinar:
Postagens (Atom)