terça-feira, 11 de setembro de 2007

Por amor a natureza

Claudia Villalobos Palacios

Dois camponeses mexicanos, Rodolfo Montiel Flores e Teodoro Cabrera,
são presos, torturados e condenados por terem defendido a natureza

Acima Rodolfo e Teodoro na prisão

Tudo começou na Serra de Petatlán e Coyuca de Catalán, no Estado de Guerrero, México. Aqui, nos últimos oito anos, aumentou de maneira alarmante o desmatamento. Entre 1992 e 2000, perderam-se 86 mil hectares de floresta dos 226 mil que existiam, correspondentes a 38%. Entre os danos produzidos pelo desmatamento, há a seca e a conseqüente perda das colheitas. A escassez de água afetou o nível dos rios; antes, eles eram caudalosos; agora são pequenos fios de água contaminada nos quais não é possível pescar.

Nove municípios estão afetados; no ano passado, dois foram declarados zonas de desastre pela seca. A destruição da vegetação provocou um aumento de 446% do solo árido em oito anos: em 1992, havia 37.636 de solo árido; em 2000, a cifra aumentou para 130.595 hectares.

Antecedentes

Vejamos um pouco de história. Em 1995, Rubén Figueroa Alcocer, então governador do Estado de Guerrero, concedeu o direito exclusivo de compra e exploração da madeira da Costa Grande à companhia norte-americana Boise Cascade, que intensificou o desmatamento. Para deter a destruição de seu meio ambiente, Rodolfo Montiel, Teodoro Cabrera e outros vizinhos fundaram, em 1998, a Organização de Camponeses Ecologistas da Serra de Petatlán e Coyuca de Catalán (OCESPCC). Bloquearam estradas para impedir que saíssem cargas de madeira, denunciaram às autoridades o corte excessivo de árvores e pediram aos órgãos competentes apoio para reflorestar a região. Sob as pressões dos camponeses, a companhia Boise Cascade saiu do local, mas houve também reações negativas: eles foram acusados de ser um grupo armado que queria ocupar os bosques para fins ilícitos, e assim começou a perseguição.

No dia dois de maio de 1999, Cabrera e Montiel foram detidos ilegalmente por oficiais do exército. Guardaram-nos sem possibilidade de comunicação, durante cinco dias, e foram torturados para que se declarassem culpados de plantar maconha e de possuir armas de uso exclusivo do exército. Rodolfo foi condenado a seis anos e oito meses de prisão e Teodoro, a 10 anos.

Conseguimos visitar Rodolfo e Teodoro no Centro Regional de Reabilitação Social da prisão do Estado de Guerrero.

• Rodolfo, como está atualmente seu caso?

Vai ser encaminhado para a Corte Interamericana de Direitos, porque, no México, as autoridades se demonstraram cegas e surdas. Esperamos que a Corte Interamericana emita uma recomendação em nosso favor.

• O que significa Deus para você?

Deus é tudo. É amor e quer o melhor para nós. Tudo o que fez, a natureza, o fez para que o usemos, para que cuidemos.

• Quem lhe ensinou o amor pela natureza?

O ensinamento vem de Deus. Nós somos pessoas simples, não temos estudos, porém, o que pensamos e dizemos vem do nosso coração. Creio que Deus dá um dom a cada um de nós. O que recebemos foi de termos sido torturados para que o povo tomasse consciência da importância de cuidar da natureza. Nós, seres humanos, fomos enviados por Deus para construir e não destruir o meio ambiente.

• Como está passando este tempo de prisão?

Não nos sentimos seguros, porque estamos nas mãos do governo e, a qualquer momento, podem nos transferir e nos fazer desaparecer.
Rodolfo, não está sofrendo pela sua família?
Ninguém gosta de estar longe da sua família, mas Jesus disse a seus discípulos que quem queria segui-lo devia tomar sua cruz. Esta é a nossa cruz. Estou tranqüilo, porque meus filhos não devem ficar envergonhados; não cometi crime nenhum.

C.V.P.


“Os camponeses ecologistas Rodolfo Montiel e Teodoro Cabrera estão presos porque fizeram o trabalho que deveria estar fazendo a Profepa (órgão do governo), cuja responsabilidade é vigiar para que se respeite a lei ambiental e proteger os recursos naturais”, afirmou Alejandro Calvillo, diretor de Greenpeace México.

A tortura que sofreram esses dois homens foi confirmada pela Comissão Nacional de Direitos Humanos e pelos Médicos pelos Direitos Humanos da Dinamarca, depois de exames minuciosos. Apesar de ter sido feita a apelação, o Tribunal Superior de Justiça ratificou a sentença condenatória no dia 17 de julho. Além disso, “a defesa teve de enfrentar um processo jurídico caracterizado por irregularidades que demonstram claramente a parcialidade com que atuaram as autoridades envolvidas”, declararam os advogados e representantes do Centro de Direitos Humanos Miguel Agustín Pro Juarez.

Prêmios

Apesar de estarem atrás das grades e serem vítimas de muitas injustiças, os camponeses ecologistas prometem que, quando recobrarem a liberdade, continuarão sua luta em defesa do meio ambiente:

“Quando sairmos, vamos continuar fazendo a mesma coisa, apesar de que, quando nos torturavam, nos ameaçavam dizendo:

“Não cometam o mesmo crime, porque iremos aplicar-lhe o dobro da pena”. Estamos presos; porém, nossos pensamentos e nosso amor pela mata são livres”.

Assassinada defensora
dos direitos humanos

No dia 19 de outubro, foi assassinada, na Cidade do México, a advogada Digna Ochoa, 38, comprometida profundamente com a defesa das vítimas do sistema judiciário injusto: pessoas humildes, indígenas, suspeitas de serem terroristas, os dois camponeses ecologistas Rodolfo Montiel e Teodoro Cabrera. Casos em que estavam envolvidos o exército e a polícia.

Seu nobre trabalho tinha sido reconhecido nacional e internacionalmente; recebeu, entre outros, o Prêmio de Anistia Internacional.

O assassinado de Digna Ochoa é produto da impunidade, da falta de proteção dos defensores dos direitos humanos, da cumplicidade das autoridades com as violações dos direitos humanos por parte do exército e da polícia. A América Latina detém o recorde de defensores de direitos humanos ameaçados de morte e o México ocupa um dos primeiros lugares.

A morte de Digna não foi em vão: no dia 8 de novembro, Rodolfo Montiel e Teodoro Cabrera foram libertados pelo presidente Foz, devido às pressões internacionais e nacionais provocadas pelo seu assassinato.

Durante este período de prisão, Rodolfo foi condecorado, pela sua luta pacifista, com prêmios de organizações nacionais e internacionais emfavor da defesa dos direitos humanos e do meio ambiente.

Recebeu os prêmios Goldman, correspondente ao Nobel do meio ambiente, Serra Club, Chico Mendes, Medalha Roque Dalton e outros. Além disso, Montiel e Cabrera foram declarados presos de consciência pela Anistia Internacional.

A partir do dia em que foram presos, Ubalda Cortés, esposa de Rodolfo, assumiu sozinha a responsabilidade de suprir as necessidades de seus filhos e, ao mesmo tempo, de divulgar o caso do marido.

Mas teve que abandonar sua comunidade pelas ameaças e hostilidades que ela e sua família sofreram. Agora vive em uma cidade próxima, apertada com seus filhos em dois quartos.

“Desde que prenderam meu marido, tem sido muito difícil para meus filhos”, explicou dona Ubalda.

“Minha mãe anda sofrendo – disse Claudia, a filha mais velha –. Ela vai trabalhar de manhã cedo e, às vezes, volta à noite. Eu sou casada, mas vim ajudá-la”.

Claudia Palacios é jornalista da Esquila Misional

Um comentário:

Silvia /('.')\ disse...

injustiça...temos que engolir né!!!
ou NÃOOO, que fazer?
na minha impotência lamento, mas graças a Deus ele está nas mãos do greenpeace que é forte e poderá fazer alguma coisa por eles...