Eu sou antes como um desses bichos a quem arrancam as entranhas e meteram estopa de ilusão corpo a dentro para que pareçam vivos, e até alertas.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Espetam-se-me agulhas na pele,
perfuram a carne do peito,
até ao interior do coração.
.
Aquele bater mais complexo
que se arremessa contras as membranas
tem a exacta morfologia das lágrimas
vindas com a chuva intensa que cai lá fora;
essas mesmas que povoam os meus olhos:
porque não estás aqui,
porque não sei onde estás,
porque o teu silêncio me sacrifica
como se fosse vítima de um acidente de viação.
.
Sinto o formigueiro na zona das finas pontas metálicas,
mas esse não apaga - por mais eficaz que seja-
o conteúdo do que está dentro dele.
.
Sei que é fácil a tristeza
sei que é fácil morrer,
difícil é olhar o vazio...
Impossível é deixar de amar-te.
.
E a chuva continua a cair (sobre a pele?)
tuas mãos em cada gota,
teu interior com trovoada de prazeres...
Se neste instante pudesse navegar-te,
unir meu coração ao teu fisicamente...
.
Não precisaria de agulhas para ter a terapia...
Da acupultura no coração.
-
-
-
rain
AS IMAGENS QUE ME RODEIAM,
ESSAS SÓLIDAS COISAS FAMILIARES:
O QUE OCULTARÃO DE MAIS SECRETO?
CERTA VEZ LI QUE A TERRA É CORTADA
POR SUBTERRÂNEOS E CAVERNAS,
LÁ NO FUNDO ESCURO.
TALVEZ TUDO SEJA ASSIM:
PLENO DAS PULSAÇÕES DE
UMA VIDA QUE NÃO SE VÊ.
COMO OLHOS QUE SE MIRAM TRANQÜILAMENTE,
ANOS A FIO; E DE REPENTE SABEMOS:
AÍ, AÍ ESTÁ O PERIGO.
Lya Luft (Reunião de Família)
Não estarei andando à beira do abismo,
as úmidas asas movendo-se no casulo...
O que aconteceria se eu aceitasse incondicionalmente
os convites da outra no espelho
e me esfiasse com ela por seu caminho de lampejos?
Fico desamparada,
como um bicho que,
despido das casca,
expõe um corpo viscoso e mole,
onde qualquer caco de vidro no chão
pode penetrar,
liquidando essa vida rastejante.
Lya Luft (Reunião de Família)
*com algumas adaptações
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
DESVANEIOS
ESSA NÃO SOU EU
VOU LOGO AVISANDO
NÃO QUE EU QUEIRA TUDO CERTO
QUERO MESMO É QUEBRAR PRATOS,
COPOS E JARROS
MAS NÃO TENHO A INTENÇÃO
DE TE FERIR
PALAVRAS SÃO FLECHAS
MAS ELAS PRA TI
O QUE OUVES
SÃO MEUS GRITOS
DA QUEDA NO ABISMO
TAMBÉM NÃO PRETENDO TE ASSUSTAR
POSSO SER SUA FLOR
MAS FLOR DO DESERTO
E DA MINHA FONTE
NÃO PODERÁS BEBER
POIS ESTOU NO MOMENTO DE SECA
E MEUS BEIJOS
VOU GUARDÁ-LOS
EM UMA CAIXINHA
POBRES ANJOS TRISTES
VOU LOGO AVISANDO
NÃO QUE EU QUEIRA TUDO CERTO
QUERO MESMO É QUEBRAR PRATOS,
COPOS E JARROS
MAS NÃO TENHO A INTENÇÃO
DE TE FERIR
PALAVRAS SÃO FLECHAS
MAS ELAS PRA TI
O QUE OUVES
SÃO MEUS GRITOS
DA QUEDA NO ABISMO
TAMBÉM NÃO PRETENDO TE ASSUSTAR
POSSO SER SUA FLOR
MAS FLOR DO DESERTO
E DA MINHA FONTE
NÃO PODERÁS BEBER
POIS ESTOU NO MOMENTO DE SECA
E MEUS BEIJOS
VOU GUARDÁ-LOS
EM UMA CAIXINHA
POBRES ANJOS TRISTES
ESTOU COM TANTAS SAUDADES DA MINHA CIDADE
QUE ENGRAÇADO, NÉ?!
POIS VIVIA RECLAMANDO DE LÁ
E AGORA...
SINTO MESMO UM APERTO NO PEITO
QUERIA TODAS AS PESSOAS QUE AMO COMIGO
MAS ACHO QUE SE ELAS ESTIVESSE AQUI
SERIA DIFERENTE...
ESTIVE PENSANDO
E EXISTEM TANTAS COISAS NA MINHA CIDADE
QUE ME FAZEM SENTIR COMO SE A VIDA
FOSSE SURREAL
O CÉU, O CLIMA...
FICAR TRISTE O FELIZ EM OUTRO LUGAR
NÃO É O MESMO DE ESTAR LÁ
NEM MESMO FICAR EMBRIAGADA
TOMAR VINHO AQUI
NÃO TEM UM TOM MÁGICO
AQUI NÃO VEJO PÔRES-DO-SOL
NEM NASCER-DA-LUA...
MAS, DEPOIS QUE SAIMOS DO OVO
TEMOS NOVOS HORIZONTES
E REZA A LENDA
QUE TODO FILHO A CASA RETORNA
BEM, MEU "ABRIGO"
NÃO É MAIS AI
EU SEI
TALVES SEMPRE O SOUBESSE DE FATO
MAS QUERO-TE O REFÚLGIO
VOCÊ E SEU LADO NEGRO
SOMBRA DO CAMPO DAS VERTENTES
DIAS NUBLADOS
Às vezes acho que sou bipolar.
Posso mudar de humor
muitas vezes ao dia
e por coisas bem fúteis
dou ataques desnecessários
faço tempestade em copo d'água
acho que o mundo vai acabar
quero me fechar em minha bolha
pra que ninguém me veja
acho tudo desinteressante
Queria às vezes não levantar
da cama
não abri os olhos nunca mais
Às vezes pra mim
é muito difícil manifestar carinho
e mais difícil ainda
é ter esperança
Não, eu não reclamo da vida
Mas me vejo perdida
em um dia cinza
envolto em tempestades
Quase não choro mais
Tenho medo de começar
e não parar
ps: Só escrevi das minhas tempestades
pois hoje o céu amanheceu nublado!
terça-feira, 28 de agosto de 2007
A ILUSÃO
Raluca
Brasil - o país do futebol
Brasil - o país da novela
Brasil - o país do carnaval
E o brasileiro vai assistindo, se entretendo,
e assim o tempo vai passando.
Algo de útil, será que vai absorvendo?
E se, ao invés, praticasse o esporte,
E assim ganhasse em saúde e ficasse mais forte?
E se, ao invés de ser induzido praticasse a leitura
a fim de adquirir a sábia cultura?
E se, ao invés de só se extasiar dançando e cantando
Se aglutinasse na solução de problemas comuns
Que hodiernamente vão se acumulando?
O Caminho
É fácil, é só saber aplicar da maneira correta
No objetivo colimado, ou o mais apropriado.
Só depende de você, "ô analfabeto, ou alfabetizado folgado"!
Não se omita, saia da ociosidade, decida-se em ser uma
anedota, ou um verdadeiro patriota.
ACONTECE ISSO NA MINHA CABEÇA - IGUALZINHO!!!
porra, num passa ônibus…
pelo que eu sei ele ainda circula de madrugada.
mas quanto mais ele demora, também mais perto ele está pra passar aqui né?
porque se esse tempo todo ele não passou, isso quer dizer que ele tá vindo.
pelo menos na teoria.
porque nunca se sabe né…
sei lá.
podia pegar aquele outro que dá uma volta do caralho.
esse sim de vez em quando passa.
mas o meu vai mais rápido.
só que a demora do meu ônibus tá pedindo pra eu pegar o outro.
sem falar que agora não tem trânsito.
motorista sai voado.
mas a volta que ele dá é perigosa…
o caminho é sinistro.
mas ficar sozinho aqui também é sinistro.
e ainda por cima esse outro me deixa num ponto mais longe que o meu.
eu tinha que caminhar um pouco.
mas também não é muita coisa não…
mas aí tinha chance de acontecer alguma coisa comigo.
mas ficar aqui sozinho também é foda, viu…
pior que eu nem sei se passa aqui nesse horário.
tenho quase certeza que passa.
peguei ele na quarta.
nessa mesma hora.
mas hoje é sábado.
não sei se ele passa nesse horário no final de semana.
ouvi dizer que passa, mas neguinho as vezes se engana né…
talvez passe…
talvez não passe.
foda é se meu ônibus chegar assim que eu entrar no outro.
melhor esperar.
ja que pela demora o meu já deve estar chegando.
quanto mais ele demora mais perto ele está pra chegar.
quanto mais eu espero menos vou ter de esperar.
cara, que doideira é essa que eu pensei?
quanto mais eu espero menos vou ter que esperar.
bonito isso! filosófico.
ó outro aí… viado! pego ou não pego essa porra?
pego ou não pego; pego ou não pego…
ah, já foi também.
bom, o meu já deve tá vindo né…
só pode…
né possível que não…
o jeito é esperar.
QUERO UMA CASINHA
Quem gostaria de uma mansão de 5 milhões?!
Digo, eu não!!!
Uma mansão de 5 milhões,
nada mais é do que tijolos, metais,
e outras quinquilharias que o homem inventou
para se sentir protegido.
Mas protegido de quê?
Isso vem desde o homem primitivo
que procurava refugio nas cavernas
para se proteger da chuva, do frio e dos animais!
Mas esse sentido já se perdeu à muito!!!
Hoje, uma bela casa é demonstrações de poder
e ostentação da luxúria
Mas não nos perguntamos, queremos ter!!!
De onde vêm tudo isso
os materias de que são construídas as mansões?
- Vêm das florestas suprimidas,
- Dos cadáveres de animais que morrem por
não tem seu habitat (sua casa)!!!,
- Vêm das lágrimas dos trabalhadores escravos!
Não, eu não quero essa casa
Pois penso o quanto as pessoas que nelas
residem devem se sentir sós,
pois do que sabemos delas, muitas nunca são vistas
e as outras dão magnificas festas (reuniões de macacos).
Quanta solidão!!!
E não, não quero mesmo essa casa
Pois me vejo em um casa pequenina
onde o cheiro do café
possa emanar em todos os cômodos
quero uma casa pequenina
pra que todos possam escutar quando estiver cantando
quero uma casa pequenina
onde todos possam ficar juntinhos na cozinha
nas noites frias
quero eu mesma abrir as janelas pro sol e pra lua
quero ter meu canteirinho
e me embriagar com perfume das flores...
E se quem eu amo couber nessa casinha
certamente ele caberá em meu coração
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma. é fermento,
bichinho alacre e sedento.
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel.
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança.,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre a mãos de uma criança.
António Gedeão
DÊ-ME SUA MÃO FRIA
MAS DEIXE QUE EU CAMINHE SÓ
ESTOU PRECISANDO DO SILÊNCIO
PARA ESCUTAR MEU CORAÇÃO
ESTOU PRECISANDO SEGUIR
MESMO SEM SABER PRA ONDE
DEVAGAR E SEMPRE
SEM OLHAR UMA VEZ
SEQUER PARA TRÁS
EU PRECISO DA CHUVA
PRA ESCONDER MINHAS LÁGRIMAS
EU PRECISO DO VENTO
PARA LEVAR MEUS MAUS PENSAMENTOS
EU PRECISO DAS ESTRELAS
PARA ORIENTAÇÃO NOTURNAS
E EU PRECISO DE MIM
COM UMA CARÊNCIA ENORME
POIS SEMPRE ACHEI
QUE UM GRANDE AMOR SALVARIA
MINHA VIDA
AGORA SOBROU SOMENTE
OS PEDAÇOS QUE SOBRARAM
DO QUE EU ERA
E OS ULTIMOS DIAS
E HORAS
DO RESTO DA MINHA VIDA
QUERO DIZER PARA TODOS QUE AMO
O QUANTO É IMPORTANTE
TÊ-LOS EM MEU CORAÇÃO
MAS, NESTE EXATO MOMENTO
FAREI-LHES UM BEM MAIOR
ESTANDO A DISTÂNCIA
MAS DÊ-ME SIM
SUA MÃO
SÓ MAIS UM POUQUINHO...
PARA O JARDIM DE SILVIA
Secret Garden (Jardim Secreto)
ela irá te deixar em casa
se você chegar batendo tarde da noite
ela irá te deixar em sua boca
se as palavras que você disser estão certas
se você pagar o preço
ela irá te deixar lá dentro
mas lá tem um jardim secreto que ela esconde
ela irá te deixar em seu carro
para dirigir por aí
ela irá te deixar estar nas partes de seu corpo
que vão te deixar pra baixo
ela irá te deixar em seu coração
se você conseguir um martelo e um trono
mas pelo seu jardim secreto, não pense duas vezes
você se foi a milhões de milhas
quão longe você chegou
para aquele lugar que você nao consegue lembrar
e você não pode esquecer
ela irá te guiar pra baixo do trajeto
lá existe ternura no ar
ela irá te deixar ir longe o suficiente
então você sabe que ela realmente está lá
ela irá olhar pra você e sorrir
e seus olhos irão dizer
que ela tem um jardim secreto
onde tudo que você quer
onde tudo que você precisa
sempre irá ficar
a milhoes de milhas...
domingo, 26 de agosto de 2007
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
?!VAMOS DORMIR DE CONCHINHA?!
Goste de alguém que te ame.
Alguém que te espere.
Alguém que te compreenda mesmo nos momentos de loucura.
De alguém que te ajude.
Que te guie.
Que seja seu apoio,
Tua esperança, teu tudo.
Goste de alguém que não te traia.
Que seja fiel,
Que sonhe contigo,
Que só pense em você,
Que só pense no teu rosto,
Na tua delicadeza, no teu espírito,
E não só no teu corpo, nem em teus bens
Goste de alguém que te espere até o final
De alguém que sofra junto contigo
Que ria junto a ti
Que enxugue tuas lágrimas
Que te abrigues quando necessário
Que fique feliz com tuas alegrias
E que te dê forças depois de um fracasso
Goste de alguém que volte pra conversar com você depois das brigas
Depois do desencontro
De alguém que caminhe junto a ti
Que seja companheiro
Que respeite tuas fantasias, tuas ilusões
Goste de alguém que te ame
Não goste apenas do amor
Goste de alguém que sinta o mesmo por você.
OS FLORES
os flores não existiam
então como profunda necessidade de amparo
resolvi gerá-los
Gestação complicada
Parto de alto risco
Roubaram-me todo o suco-vital
Fiquei com as unhas fraquinhas
cabelo ralo
Mas sai da maternidade vitoriosa
Eu e meus dois seres
eles e suas bocas famintas
Eles olhos abertos
pra o mundo liquidificador
E nós três nos tornamos
um só
Dilacerados e unidos na dor...
obs: Dia desses engoli um mosquito, não tô nada boa da cabeça
Dedico esse poema da Maricell para meus amigos verdadeiros
Anjo Borboleta
by Maricell
Sol a pino, árido asfalto
e imóvel, como a dormir,
asas postas, coloridas,
em azul igual ao céu
em verde igual ao mar,
em cores de sol e luar,
uma linda borboleta.
Inerte fragilidade...
(Triste sina para quem
viveu em meio às flores
e bebeu, nas verdes folhas,
o orvalho das manhãs...)
O vento sopra de leve
Temendo talvez acordá-la...
De repente, em sobressalto,
Vento vira ventania
E as asas criam vida
Voando, outra vez leves,
Asas nas asas do vento
Em direção ao infinito,
No colo de um meigo anjo
Que a leva mansamente
Para o céu das borboletas...
E o dia se enche de cores
De flores, de passarinhos
Em melodias cantando
Para um anjo-borboleta
Que nasceu ao meio dia
by Maricell
Sol a pino, árido asfalto
e imóvel, como a dormir,
asas postas, coloridas,
em azul igual ao céu
em verde igual ao mar,
em cores de sol e luar,
uma linda borboleta.
Inerte fragilidade...
(Triste sina para quem
viveu em meio às flores
e bebeu, nas verdes folhas,
o orvalho das manhãs...)
O vento sopra de leve
Temendo talvez acordá-la...
De repente, em sobressalto,
Vento vira ventania
E as asas criam vida
Voando, outra vez leves,
Asas nas asas do vento
Em direção ao infinito,
No colo de um meigo anjo
Que a leva mansamente
Para o céu das borboletas...
E o dia se enche de cores
De flores, de passarinhos
Em melodias cantando
Para um anjo-borboleta
Que nasceu ao meio dia
O QUE FAZER COM O TEMPO¨¬
A vida é vibe e até provar o contrário todas elas são positivas. Do chão a gente não passa e até o céu é permitido tocar. Vamos com calma, com o pensamento sensato e consciente. As opções estão ao nosso alcance. Quem precisa de muito pra se divertir precisa muito mudar interiormente, precisa ser seu próprio melhor amigo antes de tudo. Como no adágio popular: "deixemos as mulheres bonitas para os caras sem imaginação". É rico respirar, então não se ligue na roupa da vizinha ou se deixaram uma bicicleta no corredor. Um dia esse sonho todo acaba e ainda não sabemos se vai ser possível curtir ou não. Hoje é possível ser alegre, feliz, e upbeat, então não deixe para depois o sorriso. A não ser que a sua alegria seja o lamento, o choro, a raiva e o medo.
Tenho notado que muitos realmente curtem se sentir mal. Curtem o ódio, fazer guerras, a raiva, a inveja. Curtem se ligar na vida alheia, curtem chorar pelo namorado micareteiro. Eu prefiro buscar a serenidade de mente e a visão de que o mundo é bom e um pouquinho trágico ao mesmo tempo. Deixa Nietzsche filosofar sobre isso enquanto eu saio pelas ruas vivendo e comprovando tudo empiricamente. Teorizar é legal, praticar é mais ainda. O tempo é uma invenção, então invente seu tempo como convir.
Bakunin
"CONTOS DEFERENTES" por Pedrim Peroba
Conto do Mangue I
-- Desplugue o estabilizador.
O que se seguiu foi uma intensa onda de instabilidade.
Conto do Mangue II
-- Sai, que eu já não te quero mais!
-- Não.
Pausa.
-- Ah, então tá...
Conto do Mangue III
A kombi passava, buzinando e roncando. Ultrapassou o sinal vermelho, atropelou três transeuntes, e caiu de cima da ponte rio-niterói sobre um pequeno barco pesqueiro.
Conto do Mangue IV
Esperava pela morte, em silêncio, no escuro. Subitamente, percebeu que não precisava esperar. Levantou-se, apertou o interruptor da luz, e foi atrás dela.
Conto do Mangue V
Pensava na mãe. Os projéteis zuniam por sobre a trincheira. Meteu a mão num bolso, tirou um cigarro amassado do maço, levou-o até a boca, e permaneceu com ele apagado por toda a madrugada.
Conto do Mangue VI
Afundando a canela no lodo, gritava por socorro. Daí veio quem ele menos esperava.
Conto do Mangue VII
-- Espere, eu não me lembro de ter feito isso!
-- Agora é tarde, Maria. Arranque logo essa peruca vermelha, ponha o vestido e o véu, e esteja na igreja em quinze minutos.
-- Desplugue o estabilizador.
O que se seguiu foi uma intensa onda de instabilidade.
Conto do Mangue II
-- Sai, que eu já não te quero mais!
-- Não.
Pausa.
-- Ah, então tá...
Conto do Mangue III
A kombi passava, buzinando e roncando. Ultrapassou o sinal vermelho, atropelou três transeuntes, e caiu de cima da ponte rio-niterói sobre um pequeno barco pesqueiro.
Conto do Mangue IV
Esperava pela morte, em silêncio, no escuro. Subitamente, percebeu que não precisava esperar. Levantou-se, apertou o interruptor da luz, e foi atrás dela.
Conto do Mangue V
Pensava na mãe. Os projéteis zuniam por sobre a trincheira. Meteu a mão num bolso, tirou um cigarro amassado do maço, levou-o até a boca, e permaneceu com ele apagado por toda a madrugada.
Conto do Mangue VI
Afundando a canela no lodo, gritava por socorro. Daí veio quem ele menos esperava.
Conto do Mangue VII
-- Espere, eu não me lembro de ter feito isso!
-- Agora é tarde, Maria. Arranque logo essa peruca vermelha, ponha o vestido e o véu, e esteja na igreja em quinze minutos.
Owner Of a Lonely Heart (YES)
href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBsiEPk8mA6PktRm-Gt4P-q6DGLYRAjccpOW7ZfbFlUySSuatLMrYvLl9-2wamBTGTQmnJ0D7HthL8MFW9l8XVePgya9usdS-F0JbiwTbfTru80zaApsAwlEkUNr7cIy2qEqIghAXPssI/s1600-h/GAVI%C3%83O.bmp">
Dono de um coração solitário
Se mova, você sempre vive sua vida;
Nunca pensando no futuro;
Se submeta, você é o que se move;
Tenha suas chances, vencedor ou perdedor;
Se veja, você é o passo que dá;
Você e você e isso é o único jeito;
Agite, se agite, você é cada movimento que faz;
Então a história segue.
Dono de um coração solitário;
Dono de um coração solitário;
É muito melhor do que ser;
Dono de um coração partido;
Dono de um coração solitário.
Diga que você não quer ter essa chance;
Você se machucou muito antes;
Veja agora, a águia no céu;
Como dança, única e só;
Você, se perdeu; não foi por piedade;
Não tem nenhuma razão real pra ficar sozinho;
Seja você mesmo, dê a seu sentimento de liberdade uma chance;
Você teve que querer em obter sucesso.
Dono de um coração solitário;
Dono de um coração solitário;
É muito melhor do que ser;
Dono de um coração partido;
Dono de um coração solitário;
Dono de um coração solitário;
Depois de minha própria decisão;
Eles me confundiram bastante;
Dono de um coração solitário;
Meu amor nunca disse questionar sua vontade como um todo;
No fim você teve de olhar antes de pular fora;
Dono de um coração solitário;
E você não vai vacilar agora; não, não?
Dono de um coração solitário;
Dono de um coração solitário;
É muito melhor do que ser;
Dono de um coração partido;
Dono de um coração solitário.
Dono de um coração solitário;
Dono de um coração solitário;
É muito melhor do que ser;
Dono de um coração partido;
Dono de um coração solitário;
Dono de um coração solitário;
Mais cedo ou mais tarde, cada conclusão;
Vai decidir o coração solitário;
Dono de um coração solitário;
Vai excitar, vai deliciar;
Vai dar um melhor início;
Dono de um coração solitário;
Não engane sua liberdade como um todo;
Não engane sua liberdade como um todo;
Dono de um coração solitário;
Não engane sua liberdade como um todo;
Apenas o acolha.
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Estava me sentindo uma chaaata. Educada demais, suave demais, sorridente demais...
Respeitadora demais... decente demais...hehehe Acho que é essa parte que mais tá incomodando!
ENTÃO DECIDI: HOJE NÃO!!!
Amores da minha vida, estou em fase de mudanças...
E DIGO MAIS,
AGORA SÓ O QUE ME INTERESSA É O
SORRISO DOS FLORES!!!
Quase uma Bridget jones...
AGORA DEI PRA ROUBAR COISA DO BLOGS DOS OUTROS. MAS É QUE TEM COISAS TÃO BONITINHAS
COMO ESSE RELATO QUE ME IDENTIFIQUEI MUITO.
COMO NÃO SEI O NOME DESSA JOVEM, DEIXO AQUI OS PARABÉNS
E DIGO MAIS, SÓ ESTOU PEGANDO EMPRESTADO, DEPOIS DEVOLVO... RS
Domingo à noite, tédio total e eu, esparramada no sofá assistindo ao fantástico, quando de repente passa uma matéria sobre trintões. Deu um estalo, bateu um desespero, entrei em pânico, caí na real e percebi que sou...uma quase trintona!!!!! e o pior, praticamente ainda não fiz nada na vida. Ainda não escrevi um livro (serve blog ???), ainda não plantei uma árvore (serve pé de feijão, daqueles que se fazia na escola com sementes de feijão e algodão ???) e nada de filho (serve barbie???). Parece que foi ontem que eu tinha 16 anos...cheia de esperanças....achando que tudo daria certo, que eu chegaria aos 30, linda, casada com um príncipe, numa linda casa e num bom emprego......nossaaa, ainda não tenho nada disso, mas ainda tenho um tempinho pra realizar tudo isso e muito mais. Aí baixou uma Bridget Jones em mim, e pensei : tenho que fazer um diário, melhor ainda, um diário virtual (blog), contando um pouco da minha vida e das minhas conquistas (espero) rumo aos 30 (anos)!!!
COMO ESSE RELATO QUE ME IDENTIFIQUEI MUITO.
COMO NÃO SEI O NOME DESSA JOVEM, DEIXO AQUI OS PARABÉNS
E DIGO MAIS, SÓ ESTOU PEGANDO EMPRESTADO, DEPOIS DEVOLVO... RS
Domingo à noite, tédio total e eu, esparramada no sofá assistindo ao fantástico, quando de repente passa uma matéria sobre trintões. Deu um estalo, bateu um desespero, entrei em pânico, caí na real e percebi que sou...uma quase trintona!!!!! e o pior, praticamente ainda não fiz nada na vida. Ainda não escrevi um livro (serve blog ???), ainda não plantei uma árvore (serve pé de feijão, daqueles que se fazia na escola com sementes de feijão e algodão ???) e nada de filho (serve barbie???). Parece que foi ontem que eu tinha 16 anos...cheia de esperanças....achando que tudo daria certo, que eu chegaria aos 30, linda, casada com um príncipe, numa linda casa e num bom emprego......nossaaa, ainda não tenho nada disso, mas ainda tenho um tempinho pra realizar tudo isso e muito mais. Aí baixou uma Bridget Jones em mim, e pensei : tenho que fazer um diário, melhor ainda, um diário virtual (blog), contando um pouco da minha vida e das minhas conquistas (espero) rumo aos 30 (anos)!!!
terça-feira, 21 de agosto de 2007
QUADRINHOS SEM QUADRINHOS QUE ENCONTREI NO BLOG DE UM TAL DE RODRIGO!
Refletido nos seus olhos.
Ambos os personagens tem uns 20 anos.
Quadro 1
Alto de um prédio, um garoto com um casaco de frio, calça e as mãos no bolso do casaco, observa o nascer do sol com as mãos no bolso.
O nascer do sol faz a "skyline" da cidade, com todos os prédios.
Garoto: Isso é lindo.
Quadro 2
Uma mão feminina tirando o cigarro da boca do garoto.
Quadro 3
A garota soltando o cigarro que cai do prédio
Garota: Um nascer de sol tão lindo e você estragando com essa poluição.
Página 2
Quadro 1
O garoto tirando outro cigarro do maço.
Garoto: Mas é lindo exatamente por causa da poluição.
Quadro 2
Palma da mão do garoto. Uma chama surge dele.
Garoto: O caos nos entregou um mundo feio e nós estamos concertando ele.
Quadro 3
Garoto com o cigarro na boca, acendendo usando a chama que sai da palma de sua mão.
Garoto: O dia que uma selva infestada de besouros e doenças ser mais bela que a chama azul de uma boca de fogão, eu considero acabar com a poluição.
Página 3
Quadro 1
A garota voando de braços abertos na frente do prédio com uma cachoeira caindo atrás dela.
Garota: Eu sou uma beleza da natureza!
Quadro 2
Ele se equilibra em uma pequena linha de fogo no ar
Garoto: Com a tatuagem e os piercings e a roupa e a tintura no cabelo?
Quadro 3
O garoto apontando um dedo para a cachoeira.
Na cachoeira está desenhada uma logomarca. (como se fosse em um parede de água)
Garoto: Você é linda, fato. Mas você não é natureza. Você derrotou a feiúra natural que a natureza te impõe e se tornou algo--
Página 4
Quadro 1
Garota saindo molhada da cachoeira que flutua no ar, destruindo o simbolo.
Garota: Algo refletido nos seus olhos.
Quadro 2
Ela com a mão encostada no rosto dele. Fumaça de vapor saindo de onde ela encosta.
Garota: Algo sentido pela sua pele.
Quadro 3
Os lábios se aproximam
Garota: Algo que invade sua preciosa mente.
Quadro 4
Os pés flutuando no ar, do dele sai chamas dos tênis, o dela, descalço, com uma tatuagem no fim da perna, está bem molhado.
Os dois estão bem juntos.
Página 5
Os dois sentados no parapeito do prédio, ele abraça ela por trás.
Ele olha para o horizonte e ela sorri com os olhos fechados com a cabeça encostada no peito dele.
Ele com o cigarro na boca, um pouco sério (não bravo ou mal humorado, só contemplativo)
Garoto: Minha mente não é mais preciosa. A beleza a contaminou. Quando você entrou em mim por meio dos meus olhos você matou tudo de belo que existia dentro de mim e substituiu pelo seu sorriso tão irresistível.
Garota: E que tipo de beleza seria tão importante se não te matasse aos poucos?
Fim.
Postado por Rodrigo
Ambos os personagens tem uns 20 anos.
Quadro 1
Alto de um prédio, um garoto com um casaco de frio, calça e as mãos no bolso do casaco, observa o nascer do sol com as mãos no bolso.
O nascer do sol faz a "skyline" da cidade, com todos os prédios.
Garoto: Isso é lindo.
Quadro 2
Uma mão feminina tirando o cigarro da boca do garoto.
Quadro 3
A garota soltando o cigarro que cai do prédio
Garota: Um nascer de sol tão lindo e você estragando com essa poluição.
Página 2
Quadro 1
O garoto tirando outro cigarro do maço.
Garoto: Mas é lindo exatamente por causa da poluição.
Quadro 2
Palma da mão do garoto. Uma chama surge dele.
Garoto: O caos nos entregou um mundo feio e nós estamos concertando ele.
Quadro 3
Garoto com o cigarro na boca, acendendo usando a chama que sai da palma de sua mão.
Garoto: O dia que uma selva infestada de besouros e doenças ser mais bela que a chama azul de uma boca de fogão, eu considero acabar com a poluição.
Página 3
Quadro 1
A garota voando de braços abertos na frente do prédio com uma cachoeira caindo atrás dela.
Garota: Eu sou uma beleza da natureza!
Quadro 2
Ele se equilibra em uma pequena linha de fogo no ar
Garoto: Com a tatuagem e os piercings e a roupa e a tintura no cabelo?
Quadro 3
O garoto apontando um dedo para a cachoeira.
Na cachoeira está desenhada uma logomarca. (como se fosse em um parede de água)
Garoto: Você é linda, fato. Mas você não é natureza. Você derrotou a feiúra natural que a natureza te impõe e se tornou algo--
Página 4
Quadro 1
Garota saindo molhada da cachoeira que flutua no ar, destruindo o simbolo.
Garota: Algo refletido nos seus olhos.
Quadro 2
Ela com a mão encostada no rosto dele. Fumaça de vapor saindo de onde ela encosta.
Garota: Algo sentido pela sua pele.
Quadro 3
Os lábios se aproximam
Garota: Algo que invade sua preciosa mente.
Quadro 4
Os pés flutuando no ar, do dele sai chamas dos tênis, o dela, descalço, com uma tatuagem no fim da perna, está bem molhado.
Os dois estão bem juntos.
Página 5
Os dois sentados no parapeito do prédio, ele abraça ela por trás.
Ele olha para o horizonte e ela sorri com os olhos fechados com a cabeça encostada no peito dele.
Ele com o cigarro na boca, um pouco sério (não bravo ou mal humorado, só contemplativo)
Garoto: Minha mente não é mais preciosa. A beleza a contaminou. Quando você entrou em mim por meio dos meus olhos você matou tudo de belo que existia dentro de mim e substituiu pelo seu sorriso tão irresistível.
Garota: E que tipo de beleza seria tão importante se não te matasse aos poucos?
Fim.
Postado por Rodrigo
LISPECTOR, Clarice. A menor mulher do mundo.
Nas profundezas da África Equatorial o explorador francês Marcel Pretre, caçador e homem do mundo, topou com uma tribo de pigmeus de uma pequenez surpreendente. Mais surpreso, pois, ficou ao ser informado de que menor povo ainda existia além de florestas e distâncias. Então mais fundo ele foi.
No Congo Central descobriu realmente os menores pigmeus do mundo. E - como uma caixa dentro de uma caixa, dentro de uma caixa - entre os menores pigmeus do mundo estava o menor dos menores pigmeus do mundo, obedecendo talvez à necessidade que às vezes a natureza tem de exceder a si própria.
Entre mosquitos e árvores mornas de umidade, entre as folhas ricas do verde mais preguiçoso, Marcel Pretre defrontou-se com uma mulher de 45 centímetros, madura, negra, calada. "Escura como um macaco", informaria ele à imprensa, e que vivia no topo de uma árvore com seu pequeno concubino. Nos tépidos humores silvestres, que arredondam cedo as frutas e lhes dão uma quase intolerável doçura ao paladar, ela estava grávida.
Ali em pé estava, portanto, a menor mulher do mundo. Por um instante, no zumbido do calor, foi como se o francês tivesse inesperadamente chegado à conclusão última. Na certa, apenas por não ser louco, é que sua alma não desvairou nem perdeu os limites. Sentindo necessidade imediata de ordem, e de dar nome ao que existe, apelidou-a de Pequena Flor. E, para conseguir classificá-la entre as realidades reconhecíveis, logo passou a colher dados a seu respeito.
Sua raça de gente está aos poucos sendo exterminada. Poucos exemplares humanos restam dessa espécie que, não fosse o sonso perigo da África, seria povo alastrado. Fora doença, infectado hálito de águas, comida deficiente e feras rondantes, o grande risco para os escasos likoualas está nos selvagens bantus, ameaça que os rodeia em ar silencioso como em madrugada de batalha. Os bantus os caçam em redes, como fazem com os macacos. E os comem. Assim: caçam-nos em redes e os comem. A racinha de gente, sempre a recuar e a recuar, terminou aquarteirando-se no coração da África, onde o explorador afortunado a descobriria. Por defesa estratégica, moram nas árvores mais altas. De onde as mulheres descem para cozinhar milho, moer mandioca e colher verduras; os homens, para caçar. Quando um filho nasce, a liberdade lhe é dada quase que imediatamente. É verdade que muitas vezes a criança não usufruirá por muito tempo dessa liberdade entre feras. Mas é verdade que, pelo menos, não se lamentará que, para tão curta vida, longo tenha sido o trabalho. Pois mesmo a linguagem que a criança aprende é breve e simples, apenas essencial. Os likoualas usam poucos nomes, chamam as coisas por gestos e sons animais. Como avanço espiritual, têm um tambor. Enquanto dançam ao som do tambor, uma machado pequeno fica de guarda contra os bantus, que virão não se sabe de onde.
Foi, pois, assim que o explorador descobriu, toda em pé e a seus pés, a coisa humana menor que existe. Seu coração bateu porque esmeralda nenhuma é tão rara. Nem os ensinamentos dos sábios da Índia são tão raros. Nem o homem mais rico do mundo já pôs olhos sobre tanta estranha graça. Ali estava uma mulher que a gulodice do mais fino sonho jamais pudera imaginar. Foi então que o explorador disse timidamente e com uma delicadeza de sentimentos de que sua esposa jamais o julgaria capaz:
- Você é Pequena Flor.
Nesse instante Pequena Flor coçou-se onde uma pessoa não se coça. O explorador - como se estivesse recebendo o mais alto prêmio de castidade a que um homem, sempre tão idealista, ousa aspirar -, o explorador, tão vivido, desviou os olhos.
A fotografia de Pequena Flor foi publicada no suplemento colorido dos jornais de domingo, onde coube em tamanho natural. Enrolada num pano, com a barriga em estado adiantado. O nariz chato, a cara preta, os olhos fundos, os pés espalmados. Parecia um cachorro.
Nesse domingo, num apartamento, uma mulher, ao olhar no jornal aberto o retrato da Pequena Flor, não quis olhar uma segunda vez "porque me dá aflição".
Em outro apartamento uma senhora teve tal perversa ternura pela pequenez da mulher africana que - sendo tão melhor prevenir que remediar - jamais se deveria deixar Pequena Flor sozinha com a ternura da senhora. Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho. A senhora passou um dia perturbada, dir-se-ia tomada pela saudade. Aliás era primavera, uma bondade perigosa estava no ar.
Em outra casa uma menina de cinco anos de idade, vendo o retrato e ouvindo os comentários, ficou espantada. Naquela casa de adultos, essa menina fora até agora o menor dos seres humanos. E, se isso era fonte das melhores carícias, era também fonte deste primeiro medo do amor tirano. A existência de Pequena Flor levou a menina a sentir - com uma vaguidão que só anos e anos depois, por motivos bem diferentes, havia de se concretizar em pensamento -, levou a sentir, numa primeira sabedoria, que "a desgraça não tem limites".
Em outra casa, na sagração da primavera, a moça noiva teve um êxtase de piedade:
- Mamãe, olhe o retratinho dela, coitadinha! olhe só como ela é tristinha!
- Mas - disse a mãe, dura e derrotada e orgulhosa -, mas é tristeza de bicho, não é tristeza humana.
- Oh! mamãe - disse a moça desanimada.
Foi em outra casa que um menino esperto teve uma idéia esperta:
- Mamãe, se eu botasse essa mulherzinha africana na cama de Paulinho enquanto ele está dormindo? Quando ele acordasse, que susto, hein! Que berro, vendo ela sentada na cama! E a gente então brincava tanto com ela! A gente fazia ela o brinquedo da gente, hein!
A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo de orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver num armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve horror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felicidade. Assim olhou ela, com muita atenção e um orgulho inconfortável, aquele menino que já estava sem os dois dentes da frente, a evolução, a evolução se fazendo, dente caindo par nascer o que melhor morde. "Vou comprar um terno novo para ele", resolveu, olhando-o absorta. Obstinadamente enfeitava o filho desdentado com roupas finas, obstinadamente queria-o bem limpo, como se limpeza desse ênfase a uma superficialidade tranqüilizadora, obstinadamente aperfeiçoando o lado cortês da beleza. Obstinadamente afastando-se, e afastando-o, de alguma coisa que devia ser "escura como um macaco". Então, olhando para o espelho do banheiro, a mãe sorriu intencionalmente fina e polida, colocando, entre aquele seu rosto de linhas abstratas e a cara crua de Pequena Flor, a distância insuportável de milênios. Mas, com anos de prática, sabia que este seria um domingo em que teria de disfarçar de si mesma a ansiedade, o sonho, e milênios perdidos.
Em outra casa, junto a uma parede, deram-se ao trabalho alvoroçado de calcular com fita métrica os 45 centímetros de Pequena Flor. E foi aí mesmo que, em delícia, se espantaram: ela era ainda menor que o mais agudo da imaginação inventaria. No coração de cada membro da família nasceu, nostálgico, o desejo de ter para si aquela coisa miúda e indomável, aquela coisa salva de ser comida, aquela fonte permanente de caridade. A alma ávida da família queria devotar-se. E, mesmo, quem já não desejou possuir um ser humano só para si? O que, é verdade, nem sempre seria cômodo, há horas em que não se quer ter sentimentos:
- Aposto que se ela morasse aqui, terminava em briga - disse o pai sentado na poltrona, virando definitivamente a página do jornal. - Nesta casa tudo termina em briga.
- Você, José, sempre pessimista - disse a mãe.
- A senhora já pensou, mamãe, de que tamanho será o nenenzinho dela? - disse ardente a filha mais velha de treze anos.
O pai mexeu-se atrás do jornal.
- Deve ser o bebê preto menor do mundo - respondeu a mãe, derretendo-se de gosto. - Imagine só ela servindo a mesa aqui em casa! E de barriguinha grande!
- Chega dessas conversas! - engrolou o pai.
- Você há de convir - disse a mãe inesperadamente ofendida - que se trata de uma coisa rara. Você é que é insensível.
E a própria coisa rara?
Enquanto isso, na África, a própria coisa rara tinha no coração - quem sabe se negro também, pois numa natureza que errou uma vez já não se pode mais confiar -, enquanto isso a própria coisa rara tinha no coração algo mais raro ainda, assim como o segredo do próprio segredo: um filho mínimo. Metodicamente o explorador examinou com o olhar a barriguinha do menor ser humano maduro. Foi neste instante que o explorador, pela primeira vez desde que a conhecera, em vez de sentir curiosidade ou exaltação ou vitória ou espírito científico, o explorador sentiu mal-estar.
É que a menor mulher do mundo estava rindo.
Estava rindo, quente, quente. Pequena Flor estava gozando a vida. A própria coisa rara estava tendo a inefável sensação de ainda não ter sido comida. Não ter sido comida era algo que, em outras horas, lhe dava o ágil impulso de pular de galho em galho. Mas, neste momento de tranqüilidade, entre as espessas folhas do Congo Central, ela não estava aplicando esse impulso numa ação - e o impulso se concentrara todo na própria pequenez da própria coisa rara. E então ela estava rindo. Era um riso como somente quem não fala ri. Esse riso, o explorador constrangido não conseguiu classificar. E ela continuou fruindo o próprio riso macio, ela que não estava sendo devorada. Não ser devorado é o sentimento mais perfeito. Não ser devorado é o objetivo secreto de toda uma vida. Enquanto ela não estava sendo comida, seu riso bestial era tão delicado como é delicada a alegria. O explorador estava atrapalhado.
Em segundo lugar, se a própria coisa rara estava rindo, era porque, dentro de sua pequenez, grande escuridão pusera-se em movimento.
É que a própria coisa rara sentia o peito morno do que se pode chamar de Amor. Ela amava aquele explorador amarelo. Se soubesse falar e dissesse que o amava, ele inflaria de vaidade. Vaidade que diminuiria quando ela acrescentasse que também amava muito o anel do explorador e que amava muito a bota do explorador. E quando este desinchasse desapontado, Pequena Flor não compreenderia por quê. Pois, nem de longe, seu amor pelo explorador - pode-se mesmo dizer seu "profundo amor", porque, não tendo outros recursos, ela estava reduzida à profundeza -, pois nem de longe seu profundo amor pelo explorador ficaria desvalorizado pelo fato de ela também amar sua bota. Há um velho equívoco sobre a palavra amor, e, se muitos filhos nascem desse equívoco, tantos outros perderam o único instante de nascer apenas por causa de uma suscetibilidade que exige que seja de mim, de mim!, que se goste, e não de meu dinheiro. Mas na umidade da floresta não há desses refinamentos cruéis, e amor é não ser comido, amor é achar bonito uma bota, amor é gostar da cor rara de um homem que não é negro, amor é rir de amor a um anel que brilha. Pequena Flor piscava de amor, e riu quente, pequena, grávida, quente.
O explorador tentou sorrir-lhe de volta, sem saber exatamente a que abismo seu sorriso respondia, e então perturbou-se como só homem de tamanho grande se perturba. Disfarçou ajeitando melhor o chapéu de explorador, corou pudico. Tornou-se uma cor linda, a sua, de um rosa-esverdeado, como a de um limão de madrugada. Ele devia ser azedo.
Foi provavelmente ao ajeitar o capacete simbólico que o explorador se chamou à ordem, recuperou com severidade a disciplina de trabalho, e recomeçou a anotar. Aprendera a entender algumas das poucas palavras articuladas pela tribo, e a interpretar os sinais. Já conseguia fazer perguntas.
Pequena Flor respondeu-lhe que "sim". Que era muito bom ter uma árvore para morar, sua, sua mesmo. Pois - e isso ela não disse, mas seus olhos se tornaram tão escuros que o disseram -, pois é bom possuir, é bom possuir, é bom possuir. O explorador pestanejou várias vezes.
Marcel Pretre teve vários momentos difíceis consigo mesmo. Mas pelo menos ocupou-se em tomar notas. Quem não tomou notas é que teve de se arranjar como pôde:
- Pois olhe - declarou de repente uma velha fechando o jornal com decisão -, pois olhe, eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz.
No Congo Central descobriu realmente os menores pigmeus do mundo. E - como uma caixa dentro de uma caixa, dentro de uma caixa - entre os menores pigmeus do mundo estava o menor dos menores pigmeus do mundo, obedecendo talvez à necessidade que às vezes a natureza tem de exceder a si própria.
Entre mosquitos e árvores mornas de umidade, entre as folhas ricas do verde mais preguiçoso, Marcel Pretre defrontou-se com uma mulher de 45 centímetros, madura, negra, calada. "Escura como um macaco", informaria ele à imprensa, e que vivia no topo de uma árvore com seu pequeno concubino. Nos tépidos humores silvestres, que arredondam cedo as frutas e lhes dão uma quase intolerável doçura ao paladar, ela estava grávida.
Ali em pé estava, portanto, a menor mulher do mundo. Por um instante, no zumbido do calor, foi como se o francês tivesse inesperadamente chegado à conclusão última. Na certa, apenas por não ser louco, é que sua alma não desvairou nem perdeu os limites. Sentindo necessidade imediata de ordem, e de dar nome ao que existe, apelidou-a de Pequena Flor. E, para conseguir classificá-la entre as realidades reconhecíveis, logo passou a colher dados a seu respeito.
Sua raça de gente está aos poucos sendo exterminada. Poucos exemplares humanos restam dessa espécie que, não fosse o sonso perigo da África, seria povo alastrado. Fora doença, infectado hálito de águas, comida deficiente e feras rondantes, o grande risco para os escasos likoualas está nos selvagens bantus, ameaça que os rodeia em ar silencioso como em madrugada de batalha. Os bantus os caçam em redes, como fazem com os macacos. E os comem. Assim: caçam-nos em redes e os comem. A racinha de gente, sempre a recuar e a recuar, terminou aquarteirando-se no coração da África, onde o explorador afortunado a descobriria. Por defesa estratégica, moram nas árvores mais altas. De onde as mulheres descem para cozinhar milho, moer mandioca e colher verduras; os homens, para caçar. Quando um filho nasce, a liberdade lhe é dada quase que imediatamente. É verdade que muitas vezes a criança não usufruirá por muito tempo dessa liberdade entre feras. Mas é verdade que, pelo menos, não se lamentará que, para tão curta vida, longo tenha sido o trabalho. Pois mesmo a linguagem que a criança aprende é breve e simples, apenas essencial. Os likoualas usam poucos nomes, chamam as coisas por gestos e sons animais. Como avanço espiritual, têm um tambor. Enquanto dançam ao som do tambor, uma machado pequeno fica de guarda contra os bantus, que virão não se sabe de onde.
Foi, pois, assim que o explorador descobriu, toda em pé e a seus pés, a coisa humana menor que existe. Seu coração bateu porque esmeralda nenhuma é tão rara. Nem os ensinamentos dos sábios da Índia são tão raros. Nem o homem mais rico do mundo já pôs olhos sobre tanta estranha graça. Ali estava uma mulher que a gulodice do mais fino sonho jamais pudera imaginar. Foi então que o explorador disse timidamente e com uma delicadeza de sentimentos de que sua esposa jamais o julgaria capaz:
- Você é Pequena Flor.
Nesse instante Pequena Flor coçou-se onde uma pessoa não se coça. O explorador - como se estivesse recebendo o mais alto prêmio de castidade a que um homem, sempre tão idealista, ousa aspirar -, o explorador, tão vivido, desviou os olhos.
A fotografia de Pequena Flor foi publicada no suplemento colorido dos jornais de domingo, onde coube em tamanho natural. Enrolada num pano, com a barriga em estado adiantado. O nariz chato, a cara preta, os olhos fundos, os pés espalmados. Parecia um cachorro.
Nesse domingo, num apartamento, uma mulher, ao olhar no jornal aberto o retrato da Pequena Flor, não quis olhar uma segunda vez "porque me dá aflição".
Em outro apartamento uma senhora teve tal perversa ternura pela pequenez da mulher africana que - sendo tão melhor prevenir que remediar - jamais se deveria deixar Pequena Flor sozinha com a ternura da senhora. Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho. A senhora passou um dia perturbada, dir-se-ia tomada pela saudade. Aliás era primavera, uma bondade perigosa estava no ar.
Em outra casa uma menina de cinco anos de idade, vendo o retrato e ouvindo os comentários, ficou espantada. Naquela casa de adultos, essa menina fora até agora o menor dos seres humanos. E, se isso era fonte das melhores carícias, era também fonte deste primeiro medo do amor tirano. A existência de Pequena Flor levou a menina a sentir - com uma vaguidão que só anos e anos depois, por motivos bem diferentes, havia de se concretizar em pensamento -, levou a sentir, numa primeira sabedoria, que "a desgraça não tem limites".
Em outra casa, na sagração da primavera, a moça noiva teve um êxtase de piedade:
- Mamãe, olhe o retratinho dela, coitadinha! olhe só como ela é tristinha!
- Mas - disse a mãe, dura e derrotada e orgulhosa -, mas é tristeza de bicho, não é tristeza humana.
- Oh! mamãe - disse a moça desanimada.
Foi em outra casa que um menino esperto teve uma idéia esperta:
- Mamãe, se eu botasse essa mulherzinha africana na cama de Paulinho enquanto ele está dormindo? Quando ele acordasse, que susto, hein! Que berro, vendo ela sentada na cama! E a gente então brincava tanto com ela! A gente fazia ela o brinquedo da gente, hein!
A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo de orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver num armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve horror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felicidade. Assim olhou ela, com muita atenção e um orgulho inconfortável, aquele menino que já estava sem os dois dentes da frente, a evolução, a evolução se fazendo, dente caindo par nascer o que melhor morde. "Vou comprar um terno novo para ele", resolveu, olhando-o absorta. Obstinadamente enfeitava o filho desdentado com roupas finas, obstinadamente queria-o bem limpo, como se limpeza desse ênfase a uma superficialidade tranqüilizadora, obstinadamente aperfeiçoando o lado cortês da beleza. Obstinadamente afastando-se, e afastando-o, de alguma coisa que devia ser "escura como um macaco". Então, olhando para o espelho do banheiro, a mãe sorriu intencionalmente fina e polida, colocando, entre aquele seu rosto de linhas abstratas e a cara crua de Pequena Flor, a distância insuportável de milênios. Mas, com anos de prática, sabia que este seria um domingo em que teria de disfarçar de si mesma a ansiedade, o sonho, e milênios perdidos.
Em outra casa, junto a uma parede, deram-se ao trabalho alvoroçado de calcular com fita métrica os 45 centímetros de Pequena Flor. E foi aí mesmo que, em delícia, se espantaram: ela era ainda menor que o mais agudo da imaginação inventaria. No coração de cada membro da família nasceu, nostálgico, o desejo de ter para si aquela coisa miúda e indomável, aquela coisa salva de ser comida, aquela fonte permanente de caridade. A alma ávida da família queria devotar-se. E, mesmo, quem já não desejou possuir um ser humano só para si? O que, é verdade, nem sempre seria cômodo, há horas em que não se quer ter sentimentos:
- Aposto que se ela morasse aqui, terminava em briga - disse o pai sentado na poltrona, virando definitivamente a página do jornal. - Nesta casa tudo termina em briga.
- Você, José, sempre pessimista - disse a mãe.
- A senhora já pensou, mamãe, de que tamanho será o nenenzinho dela? - disse ardente a filha mais velha de treze anos.
O pai mexeu-se atrás do jornal.
- Deve ser o bebê preto menor do mundo - respondeu a mãe, derretendo-se de gosto. - Imagine só ela servindo a mesa aqui em casa! E de barriguinha grande!
- Chega dessas conversas! - engrolou o pai.
- Você há de convir - disse a mãe inesperadamente ofendida - que se trata de uma coisa rara. Você é que é insensível.
E a própria coisa rara?
Enquanto isso, na África, a própria coisa rara tinha no coração - quem sabe se negro também, pois numa natureza que errou uma vez já não se pode mais confiar -, enquanto isso a própria coisa rara tinha no coração algo mais raro ainda, assim como o segredo do próprio segredo: um filho mínimo. Metodicamente o explorador examinou com o olhar a barriguinha do menor ser humano maduro. Foi neste instante que o explorador, pela primeira vez desde que a conhecera, em vez de sentir curiosidade ou exaltação ou vitória ou espírito científico, o explorador sentiu mal-estar.
É que a menor mulher do mundo estava rindo.
Estava rindo, quente, quente. Pequena Flor estava gozando a vida. A própria coisa rara estava tendo a inefável sensação de ainda não ter sido comida. Não ter sido comida era algo que, em outras horas, lhe dava o ágil impulso de pular de galho em galho. Mas, neste momento de tranqüilidade, entre as espessas folhas do Congo Central, ela não estava aplicando esse impulso numa ação - e o impulso se concentrara todo na própria pequenez da própria coisa rara. E então ela estava rindo. Era um riso como somente quem não fala ri. Esse riso, o explorador constrangido não conseguiu classificar. E ela continuou fruindo o próprio riso macio, ela que não estava sendo devorada. Não ser devorado é o sentimento mais perfeito. Não ser devorado é o objetivo secreto de toda uma vida. Enquanto ela não estava sendo comida, seu riso bestial era tão delicado como é delicada a alegria. O explorador estava atrapalhado.
Em segundo lugar, se a própria coisa rara estava rindo, era porque, dentro de sua pequenez, grande escuridão pusera-se em movimento.
É que a própria coisa rara sentia o peito morno do que se pode chamar de Amor. Ela amava aquele explorador amarelo. Se soubesse falar e dissesse que o amava, ele inflaria de vaidade. Vaidade que diminuiria quando ela acrescentasse que também amava muito o anel do explorador e que amava muito a bota do explorador. E quando este desinchasse desapontado, Pequena Flor não compreenderia por quê. Pois, nem de longe, seu amor pelo explorador - pode-se mesmo dizer seu "profundo amor", porque, não tendo outros recursos, ela estava reduzida à profundeza -, pois nem de longe seu profundo amor pelo explorador ficaria desvalorizado pelo fato de ela também amar sua bota. Há um velho equívoco sobre a palavra amor, e, se muitos filhos nascem desse equívoco, tantos outros perderam o único instante de nascer apenas por causa de uma suscetibilidade que exige que seja de mim, de mim!, que se goste, e não de meu dinheiro. Mas na umidade da floresta não há desses refinamentos cruéis, e amor é não ser comido, amor é achar bonito uma bota, amor é gostar da cor rara de um homem que não é negro, amor é rir de amor a um anel que brilha. Pequena Flor piscava de amor, e riu quente, pequena, grávida, quente.
O explorador tentou sorrir-lhe de volta, sem saber exatamente a que abismo seu sorriso respondia, e então perturbou-se como só homem de tamanho grande se perturba. Disfarçou ajeitando melhor o chapéu de explorador, corou pudico. Tornou-se uma cor linda, a sua, de um rosa-esverdeado, como a de um limão de madrugada. Ele devia ser azedo.
Foi provavelmente ao ajeitar o capacete simbólico que o explorador se chamou à ordem, recuperou com severidade a disciplina de trabalho, e recomeçou a anotar. Aprendera a entender algumas das poucas palavras articuladas pela tribo, e a interpretar os sinais. Já conseguia fazer perguntas.
Pequena Flor respondeu-lhe que "sim". Que era muito bom ter uma árvore para morar, sua, sua mesmo. Pois - e isso ela não disse, mas seus olhos se tornaram tão escuros que o disseram -, pois é bom possuir, é bom possuir, é bom possuir. O explorador pestanejou várias vezes.
Marcel Pretre teve vários momentos difíceis consigo mesmo. Mas pelo menos ocupou-se em tomar notas. Quem não tomou notas é que teve de se arranjar como pôde:
- Pois olhe - declarou de repente uma velha fechando o jornal com decisão -, pois olhe, eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz.
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Eu não queria,
mas é assim que me sinto:
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
:: by Kim - wasabi
TENHO A DIMENSÃO
DE UMA NOITE ESCURA
E SEGREDOS SUBTERRÂNEOS
QUE SÃO MISTÉRIOS
ATÉ MESMO PRA MIM
QUE SEPARA CORPO E ALMA
COM UMA LINHA TÊNUE
FIO DE OURO - RAIO DE SOL
O SOFRIMENTO NÃO É UMA CRUZ
E SIM,
UM MERGULHO NA ESPERANÇA
DE NUNCA MAIS
SENTIR DOR
E AS ALEGRIAS
VÊM COMO GRITINHOS
QUE MORREM DE MEDO
DE SE TORNAREM SARCASMOS
PALHAÇOS DEPRIMIDOS
MAS TAMBÉM
HÁ O SILÊNCIO
ODORES DA VIDA...
Tenho escrito
palavras melancólicas
e desconexas - à muito
E lido literatura subterrânea
- pura lama negra
Que faz dos meus dias
cárcere em incompreensões
E risco eminente
de salto no abismo
da estirpe da lucidez
E você e todos os outros
partem para seu mundo
e suas vidas
mas eu não tenho a senha
Nem mais sei
o caminhos de volta
Conselhos de Bill Gates
Para qualquer pessoa com filhos de qualquer idade ou qualquer pessoa que já foi criança, aqui estão alguns conselhos de Bill Gates em uma conferência de uma escola secundária sobre coisas que estudantes não aprenderiam na escola. Ele fala sobre como a política do "sentir-se bem" tem criado uma geração de crianças sem conceito da realidade e como esta política tem levado as pessoas a falharem em suas vidas posteriores à escola.
Regra 1: A vida não é fácil - acostume-se com isso.
Regra 2: O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo.
Regra 3: Você não ganhará um alto salário assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.
Regra 4: Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
Regra 5: Ser office boy não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso - eles chamam de oportunidade.
Regra 6: Se você fracassar, não é culpa de seus pais, então não lamente seus erros, aprenda com eles.
Regra 7: Antes de você nascer seus pais não eram tão chatos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você falar o quanto você mesmo era legal. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
Regra 8: Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real.
Regra 9: A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudarão a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
10: Balada NÃO É vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a cafeteria e ir trabalhar.
pense nisso
Para qualquer pessoa com filhos de qualquer idade ou qualquer pessoa que já foi criança, aqui estão alguns conselhos de Bill Gates em uma conferência de uma escola secundária sobre coisas que estudantes não aprenderiam na escola. Ele fala sobre como a política do "sentir-se bem" tem criado uma geração de crianças sem conceito da realidade e como esta política tem levado as pessoas a falharem em suas vidas posteriores à escola.
Regra 1: A vida não é fácil - acostume-se com isso.
Regra 2: O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo.
Regra 3: Você não ganhará um alto salário assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.
Regra 4: Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
Regra 5: Ser office boy não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso - eles chamam de oportunidade.
Regra 6: Se você fracassar, não é culpa de seus pais, então não lamente seus erros, aprenda com eles.
Regra 7: Antes de você nascer seus pais não eram tão chatos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você falar o quanto você mesmo era legal. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
Regra 8: Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real.
Regra 9: A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudarão a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
10: Balada NÃO É vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a cafeteria e ir trabalhar.
pense nisso
Largue esta banana
Uma antiga tribo africana utiliza um método bastante curioso para capturar os espertos macacos que vivem nos galhos mais altos das árvores.
O sistema é o seguinte:
Os nativos pegam um recipiente de boca estreita, colocam uma banana dentro, amarram-no ao tronco de uma árvore e afastam-se.
Quando eles saem, um macaco curioso desce, olha dentro da cabaça e vê a banana.
Enfia sua mão e apanha a fruta, mas como a boca do recipiente é muito estreita, ele não consegue tirar a banana; sua mão sai e ele pode ir embora livremente, caso contrário continua preso na armadilha.
Após algum tempo, os nativos voltam e capturam sem dificuldade os macacos teimosos que se recusaram a largar as bananas.
O final é trágico, pois eles são caçados para serem comidos.
Você deve achar absurdo o grau de estupidez destes macacos, afinal basta largar a banana e ficar livre do destino de ir para a panela.
Fácil demais, não é? O problema deve estar no valor exagerado que o macaco atribui à sua conquista.
A banana já está ali, na sua mão.
Parece ser uma insanidade largá-la e ir embora.
Achei esta história engraçada porque muitas vezes fazemos exatamente como estes macacos.
Ou você não conhece ninguém que está insatisfeito com o emprego, mas permanece lá, mesmo sabendo que está cultivando um infarto?
Ou casais com relacionamentos completamente deteriorados que insistem em ficar sofrendo?
Ou pessoas infelizes por causa de decisões antigas que continuam adiando um novo caminho que trará de volta a alegria de viver?
Somos ou não como os macacos?
A vida é preciosa demais para trocarmos por uma banana que, apesar de estar em nossa mão, pode levar-nos direto à panela.
domingo, 19 de agosto de 2007
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Estou pensando em encontrar
aquela que vejo no espelho
Penteio os cabelos
Enovelados de sonhos
Olhos alertas
irís como diamante negro
Algumas rugas
Canaletas onde passaram
milhões de sorrisos
E outra na testa
Que reflete um certo quê
de quem quer entender
um pouco melhor
Não és muito clara minha visão
envolta em brumas
ou mesmo em auroras-boreais
Aonde há espera
pelo mágico
É um sentimento
de concentração absurda de carinho
que cultivo dentro da minha alma
se fundindo dentro desse corpo
Áurea angelical
Estar-se presa por vontade
Esquecida em mim mesma
Condicionada à um mundo triste
Mas sempre com olhar de esperança...
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Escorro por entre as horas
Estou perdida entre o nada
e o agora mesmo
Ontem ouve um tempo
em que a esperança
era algo bom
Mas veio as nuvens
e tempestade
e teu sorriso se desfez na vidraça
Coloro meu rosto com maquiagens
Quero um tom de vida
Abro a janela
E encho meus pulmões
Preciso de auto-ajuda
Preciso de crianças ao meu lado
Que me façam sentir
o lado doce da vida
Quero não depender de ninguém agora
Não agora...
Estar só
Eu preciso do meu silêncio
Preciso organizar meus cacos
como quebra cabeça
Pois decidi continuar meu caminho
Agora nascerá em mim
rosas e girassóis
Agora jorrará
dentro do mim
a fonte do gostar bem
Venha à mim
Vento do leste...
Estou perdida entre o nada
e o agora mesmo
Ontem ouve um tempo
em que a esperança
era algo bom
Mas veio as nuvens
e tempestade
e teu sorriso se desfez na vidraça
Coloro meu rosto com maquiagens
Quero um tom de vida
Abro a janela
E encho meus pulmões
Preciso de auto-ajuda
Preciso de crianças ao meu lado
Que me façam sentir
o lado doce da vida
Quero não depender de ninguém agora
Não agora...
Estar só
Eu preciso do meu silêncio
Preciso organizar meus cacos
como quebra cabeça
Pois decidi continuar meu caminho
Agora nascerá em mim
rosas e girassóis
Agora jorrará
dentro do mim
a fonte do gostar bem
Venha à mim
Vento do leste...
domingo, 12 de agosto de 2007
Poema de duas embriagadas
Agora sentada entre o alcance
me sinto
lúcida e calma
mas às vezes
muito triste e só
agora eu
perdida aqui
livros e sonhos
distante esse mundo
em que tudo era possível
lembro de vales
chuvas e pôres-do-sol
eu via eu e você
e cores de arco-íris
e nós deitados esperando o infinito
parecia eterno cada momento
às vezes pesava no fim
e doia
mas eu sabia que eu me amava
e me sentia confiante
neste amor inesgotável
de mim
sobre mim
e me sentia sóbria
mesmo embriagada
em amores errados
nevoas não se dessipam agora
meu silêncio
espera minha alma
ouve um tempo
de beleza, flores
e tempestade
mas você
e seu teatro tão ultrapassado
não ouve risadas
e ninguém
Fernanda e Patrícia
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Escolho viver,
viver o dia e a noite
Escorregar por entre as ruas
Sorrir para desconhecidos
Sentir o vento
Cair nas horas lendo
Sentar na praça
Admirar as palmeiras
Tentar entender um pouco a vida
Espiar, mas bem escondidinho a morte
E rir dela baixinho depois
Quero separar minhas lembranças
colocar em uma bela caixa
Como recortes
e admirá-las em um dia de sol
Quero um abraço de um amigo,
Mas quero fortemente
um olhar desconhecido
Que reconheça coisas em mim
que eu mesma desconheço
Quero um papel para escrever
sobre minha vida
Depois rir, achando tolices
Rasgar,
e começar tudo novamente
E mais que tudo
eu te quero
Você,
Que ainda não conheço
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
MARA, MUITO OBRIGADA PELA PELAS FLORES
CONSIGO MESMO ATÉ SENTIR O CHEIRO
QUE É TÃO DELICADO QUANTO A PESSOA
MARAVILHOSA QUE ÉS!!!
OBRIGADO POR VOCÊ TER ENTRADO EM MINHA VIDA,
VOCÊ ME MOSTROU O LADO BOM DE VIVER,
ME ENSINOU A ACREDITAR EM MIM E NAS PESSOAS
COM CARINHO NO CORAÇÃO...
SAIBAIS QUE ÉS DAS FLORES MAIS BELAS DO MEU JARDIM!!!
Espelho do meu coração
espero me encontrar
Antes de me perder
me dê sua mão
Mas não lhe muito em meus olhos
Pois eles faicam,
Mas em seu subtarrêneo
existe uma ferida
que ainda não cicatrizou
Então ergo meus olhos ao horizonte
E ainda espero,
Espero aquele
a que irá me salvar de mim mesma
Cárcere privado
de psicoses juvenis
Tristezas de um filho
que nunca irei ter
Arraco minhas asas
vou de encontro ao abismo
Mas eu ainda espero
o vento do norte
e sua bruma de embriaguês
espero me encontrar
Antes de me perder
me dê sua mão
Mas não lhe muito em meus olhos
Pois eles faicam,
Mas em seu subtarrêneo
existe uma ferida
que ainda não cicatrizou
Então ergo meus olhos ao horizonte
E ainda espero,
Espero aquele
a que irá me salvar de mim mesma
Cárcere privado
de psicoses juvenis
Tristezas de um filho
que nunca irei ter
Arraco minhas asas
vou de encontro ao abismo
Mas eu ainda espero
o vento do norte
e sua bruma de embriaguês
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Tenho me sentido com desejo de estar sempre dormindo
Protegida de um mundo que não pode me afetar...
Quando estou dormindo,
estou completamente em minha bolha...
Mas não estou fugindo de nada...
às vezes preciso de um momento para hibernar
Então, durante o dia vou me preparando
para o momento certo
Tiro o pé do acelerador, e lentamente
me transformo em sonâmbula...
Neste meu mundo de sonhos
Tenho à mim
Tenho mortes e vida
Tenho eperança de algum dia acordar
E esse mundo de tristezas ter passado
E em seu lugar
Somente exista
um mundo cercado de borboletas...
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Lya luft (Lado Fatal)
O lado fatal
I
Quando meu amado morreu, não pude acreditar:
andei pelo quarto sozinha repetindo baixo:
"Não acredito, não acredito."
Beijei sua boca ainda morna,
acarinhei seu cabelo crespo,
tirei sua pesada aliança de prata com meu nome
e botei no dedo.
Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso.
II
Muita gente veio e se foi.
Olharam, me abraçaram, choraram,
todos com ar de uma incrédula orfandade.
III
Aquele de quem hoje falam e escrevem
(ou aos poucos vão-se esquecendo)
é muito menos do que este, deitado em meu coração,
meu amante e meu menino ainda.
IV
Deus
(ou foi a Morte?)
golpeou com sua pesada foice
o coração do meu amado
(não se vê a ferida, mas rasgou o meu também).
Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado,
disse bem alto meu nome no quarto do hospital,
e partiu.
Quando se foram também os médicos e suas
[ máquinas inúteis,
ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?)
o meu amado e eu.
Enterrei o rosto na curva do seu ombro
como sempre fazia,
disse as palavras de amor que costumávamos trocar.
O silêncio dele era absoluto: seu coração emudecido
e o meu, varados por essa dourada foice.
Por onde vou deixo o rastro de um sangue denso
[e triste
que não estancará jamais.
V
Insensato eu estar aqui, e viva.
O rosto dele me contempla
vincado e triste no retrato sobre minha mesa;
em outros, sorri para mim, apaixonado e feliz.
Insensato, isso de sobreviver:
mas cá estou, na aparência inteira.
Vou à janela esperando que ele apareça
e me acene com aquele seu gesto largo e generoso,
que ao acordar esteja ao meu lado
e que ao telefone seja sempre a sua voz.
Sei e não sei que tudo isso é impossível,
que a morte é um abismo sem pontes
(ao menos por algum tempo).
Sobrevivo, mas pela insensatez.
VI
Pensei que estávamos apenas no começo:
a casa mal-e-mal nos alicerces.
Mas provavelmente estava concluída
e eu não sabia.
Tínhamos erguido em nossos poucos anos
as paredes necessárias;
o telhado se inclinava ao jeito certo,
e havia vidraças nas janelas.
(Éramos felizes ali dentro
mesmo com as tempestades de fora.)
Tudo se construiu num lapso tão curto:
até a porta de entrada, por onde ele saiu
casualmente como quem vai comprar jornal.A porta está apenas encostada
embora pareça alta, dura, intransponível:
do lado de lá, o meu amor vê as maravilhas
que tanto nos intrigavam nesta vida.
VII
Tanto escrevi sobre a morte
em livros e poemas nesses anos:
sempre achei que a entendia um pouco.
Mas agora que ela me dilacerou a vida,
me rasgou o peito,
me levou o amado,
sinto que mal começo a compreender
sua mensagem:
tirando-o de mim, a morte o devolve
para que seja mais meu.
Dentro de mim um quebra-cabeças, e nele
[o meu amado.
Nem Deus o tirará daqui.
VIII
O meu amado morreu:
viver sem ele, como dói.
Não tivemos filhos juntos,
nosso passado foi tão breve que era sempre
[presente.
Um dia ele mandou fazer um par de alianças
de pesada prata, parecendo antigas;
gravou apenas nossos nomes, sem data, e disse:
"Somos um só desde sempre."
Ainda não acreditei em sua morte,
e talvez isso me salve por enquanto.
Levantar-me da cama cada dia é um ato heróico,
acender o cigarro, atender o telefone, tomar café.
Mas faço tudo isso:
falo, ando, recebo visitas.
Compro móveis para a casa onde moro sem ele,
imaginando: será que ele vai gostar?
De algum secreto lugar me vem a força
para erguer a xícara, acender o cigarro,
até sorrir quando alguém me diz:
"Você hoje está com a cara ótima",
quando penso se não doeria menos
jogar-me de um décimo-primeiro andar.
XIX
Amado meu, agora morto,
postado do lado de lá da fronteira que nos seduzia,
mudo e quedo como se não existisses:
eu sei que existes,
intensamente, ardentemente existes,
feito e desfeito no fogo de um amor maior que
[o nosso
mas que nos abrange.
Amado meu, morto agora e para sempre vivo,
hás de ter ainda o intenso olhar que me entendia,
as curvas amorosas da boca que chamou meu nome,
as belas, inquietas mãos que ardiam nas minhas.
Ajuda-me agora, silencioso que estás,
a suportar a sobrevida
e a decifrar esse alto, intransponível muro que me
[cerca.
X
Nunca tivemos filhos juntos, e ele reclamava:
"Nosso amor merecia um filho ao menos.
"Nosso filho é a minha dor de hoje,
é a fulguração que nos deixava tontos,
é o novelo da memória que teço e reteço
nas minhas insônias.
Nosso filho é o meu tempo de agora
para falar do meu amado:
da sua força e sua fragilidade,
da sua indignação e seus prantos,
da sua necessidade de ser amado e aceito
como finalmente deve estar sendo, por inteiro,
na realização de todos os seus vastos desejos.
XI
O meu amor enveredou por sua morte
como quem vai a um encontro de amor:
impaciente.
Deixou-me este coração golpeado,
esta derrota.
Mas também ficou a claridade desses anos
e a sensação de que ele finalmente
vive o encontro de amor
que toda a devoção de minha vida não lhe poderia
[dar.(Um dia, celebraremos juntos.)
XII
Se me tivessem amputado braços e pernas
e furado o coração com frias facas
e cegado meus olhos com ganchos
e esfolado a minha pele como a de um podre bicho
- nada doeria mais
que te saber morto, amado meu,
depositado
nesse irremediável poço de silêncio de onde não
[respondes.(A não ser em sonho, quando me olhas
e tuas mãos tocam as minhas espalmadas,
abertas, feridas, vazias.)
XIII
O meu amado morreu:
preciso viver sua morte até o fim.
Morreu sem que se instalasse entre nós cansaço e
[banalidade.
Talvez tenha morrido na medida certa
para nada se desgastar.
Dele me vem a dor, mas também a ternura,
a claridade que me permite ver
em todos os rostos o seu rosto
em todos os vultos o seu vulto
e ouvir em todos os silêncios
o seu inesperado riso de criança
XIV
Estranha a vida:
fico tangendo meus dias
como um rebanho de ovelhas desordenadas
nessa triste e fria cidade de Porto Alegre
onde ele gostava de estar
olhando o pôr-do-sol e vendo amigos.
"Morrer é tomar um porre de não-desejo"
dizia o meu amado, que era um homem desejoso:
desejava a vida, desejava a morte, desejava
[a justiça,
desejava a eternidade e a paz.
Estranha a vida:
quando releio uma frase sua,
"viver é modular a morte",
em sangue e dor preparo a minha ida.
Estranho também esse amor,
com hora marcada para a mutilação
da morte, o minuto acertado,
e o fim consultando o relógio
para nos golpear.
Estranho esse amor de agora,
com meu amado atrás de um espelho baço
onde às vezes penso divisar seu vulto
como num aquário.
Enrolado em silêncio,
mais que nunca o meu amor comanda a minha vida.
XV
Não falem alto comigo:
andem sempre na ponta dos pés.
Principalmente, não me toquem.
Finjam que não vêem se tenho um jeito absorto,
se nem sempre entendo as perguntas
com a rapidez de antigamente,
se pareço fatigada
e sem graça como nunca fui.
Façam silêncio ao meu redor.
Não me interessa nada o cotidiano nem o místico.
Não quero discutir o preço do mercado
nem os grandes mistérios da eternidade.
XVI
Levo meu amado no peito
como quem carrega nos braços para sempre
uma criança morta.
XVII
Amado meu, que tanto ensinaste
de mim a mim mesma, e do mundo
a quem o conhecia pouco:
quando se desfizer escura a noite desta perda,
quero enxergar pelos teus olhos,
amar através do teu amor
as coisas que me restaram.
Amado meu, vivo em mim para sempre,
apesar da ruga a mais
e do olhar mais triste,
devo-te isto:
voltar a amar a vida
como agora amas, inteiramente,
a tua morte.
Lya Luft
I
Quando meu amado morreu, não pude acreditar:
andei pelo quarto sozinha repetindo baixo:
"Não acredito, não acredito."
Beijei sua boca ainda morna,
acarinhei seu cabelo crespo,
tirei sua pesada aliança de prata com meu nome
e botei no dedo.
Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso.
II
Muita gente veio e se foi.
Olharam, me abraçaram, choraram,
todos com ar de uma incrédula orfandade.
III
Aquele de quem hoje falam e escrevem
(ou aos poucos vão-se esquecendo)
é muito menos do que este, deitado em meu coração,
meu amante e meu menino ainda.
IV
Deus
(ou foi a Morte?)
golpeou com sua pesada foice
o coração do meu amado
(não se vê a ferida, mas rasgou o meu também).
Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado,
disse bem alto meu nome no quarto do hospital,
e partiu.
Quando se foram também os médicos e suas
[ máquinas inúteis,
ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?)
o meu amado e eu.
Enterrei o rosto na curva do seu ombro
como sempre fazia,
disse as palavras de amor que costumávamos trocar.
O silêncio dele era absoluto: seu coração emudecido
e o meu, varados por essa dourada foice.
Por onde vou deixo o rastro de um sangue denso
[e triste
que não estancará jamais.
V
Insensato eu estar aqui, e viva.
O rosto dele me contempla
vincado e triste no retrato sobre minha mesa;
em outros, sorri para mim, apaixonado e feliz.
Insensato, isso de sobreviver:
mas cá estou, na aparência inteira.
Vou à janela esperando que ele apareça
e me acene com aquele seu gesto largo e generoso,
que ao acordar esteja ao meu lado
e que ao telefone seja sempre a sua voz.
Sei e não sei que tudo isso é impossível,
que a morte é um abismo sem pontes
(ao menos por algum tempo).
Sobrevivo, mas pela insensatez.
VI
Pensei que estávamos apenas no começo:
a casa mal-e-mal nos alicerces.
Mas provavelmente estava concluída
e eu não sabia.
Tínhamos erguido em nossos poucos anos
as paredes necessárias;
o telhado se inclinava ao jeito certo,
e havia vidraças nas janelas.
(Éramos felizes ali dentro
mesmo com as tempestades de fora.)
Tudo se construiu num lapso tão curto:
até a porta de entrada, por onde ele saiu
casualmente como quem vai comprar jornal.A porta está apenas encostada
embora pareça alta, dura, intransponível:
do lado de lá, o meu amor vê as maravilhas
que tanto nos intrigavam nesta vida.
VII
Tanto escrevi sobre a morte
em livros e poemas nesses anos:
sempre achei que a entendia um pouco.
Mas agora que ela me dilacerou a vida,
me rasgou o peito,
me levou o amado,
sinto que mal começo a compreender
sua mensagem:
tirando-o de mim, a morte o devolve
para que seja mais meu.
Dentro de mim um quebra-cabeças, e nele
[o meu amado.
Nem Deus o tirará daqui.
VIII
O meu amado morreu:
viver sem ele, como dói.
Não tivemos filhos juntos,
nosso passado foi tão breve que era sempre
[presente.
Um dia ele mandou fazer um par de alianças
de pesada prata, parecendo antigas;
gravou apenas nossos nomes, sem data, e disse:
"Somos um só desde sempre."
Ainda não acreditei em sua morte,
e talvez isso me salve por enquanto.
Levantar-me da cama cada dia é um ato heróico,
acender o cigarro, atender o telefone, tomar café.
Mas faço tudo isso:
falo, ando, recebo visitas.
Compro móveis para a casa onde moro sem ele,
imaginando: será que ele vai gostar?
De algum secreto lugar me vem a força
para erguer a xícara, acender o cigarro,
até sorrir quando alguém me diz:
"Você hoje está com a cara ótima",
quando penso se não doeria menos
jogar-me de um décimo-primeiro andar.
XIX
Amado meu, agora morto,
postado do lado de lá da fronteira que nos seduzia,
mudo e quedo como se não existisses:
eu sei que existes,
intensamente, ardentemente existes,
feito e desfeito no fogo de um amor maior que
[o nosso
mas que nos abrange.
Amado meu, morto agora e para sempre vivo,
hás de ter ainda o intenso olhar que me entendia,
as curvas amorosas da boca que chamou meu nome,
as belas, inquietas mãos que ardiam nas minhas.
Ajuda-me agora, silencioso que estás,
a suportar a sobrevida
e a decifrar esse alto, intransponível muro que me
[cerca.
X
Nunca tivemos filhos juntos, e ele reclamava:
"Nosso amor merecia um filho ao menos.
"Nosso filho é a minha dor de hoje,
é a fulguração que nos deixava tontos,
é o novelo da memória que teço e reteço
nas minhas insônias.
Nosso filho é o meu tempo de agora
para falar do meu amado:
da sua força e sua fragilidade,
da sua indignação e seus prantos,
da sua necessidade de ser amado e aceito
como finalmente deve estar sendo, por inteiro,
na realização de todos os seus vastos desejos.
XI
O meu amor enveredou por sua morte
como quem vai a um encontro de amor:
impaciente.
Deixou-me este coração golpeado,
esta derrota.
Mas também ficou a claridade desses anos
e a sensação de que ele finalmente
vive o encontro de amor
que toda a devoção de minha vida não lhe poderia
[dar.(Um dia, celebraremos juntos.)
XII
Se me tivessem amputado braços e pernas
e furado o coração com frias facas
e cegado meus olhos com ganchos
e esfolado a minha pele como a de um podre bicho
- nada doeria mais
que te saber morto, amado meu,
depositado
nesse irremediável poço de silêncio de onde não
[respondes.(A não ser em sonho, quando me olhas
e tuas mãos tocam as minhas espalmadas,
abertas, feridas, vazias.)
XIII
O meu amado morreu:
preciso viver sua morte até o fim.
Morreu sem que se instalasse entre nós cansaço e
[banalidade.
Talvez tenha morrido na medida certa
para nada se desgastar.
Dele me vem a dor, mas também a ternura,
a claridade que me permite ver
em todos os rostos o seu rosto
em todos os vultos o seu vulto
e ouvir em todos os silêncios
o seu inesperado riso de criança
XIV
Estranha a vida:
fico tangendo meus dias
como um rebanho de ovelhas desordenadas
nessa triste e fria cidade de Porto Alegre
onde ele gostava de estar
olhando o pôr-do-sol e vendo amigos.
"Morrer é tomar um porre de não-desejo"
dizia o meu amado, que era um homem desejoso:
desejava a vida, desejava a morte, desejava
[a justiça,
desejava a eternidade e a paz.
Estranha a vida:
quando releio uma frase sua,
"viver é modular a morte",
em sangue e dor preparo a minha ida.
Estranho também esse amor,
com hora marcada para a mutilação
da morte, o minuto acertado,
e o fim consultando o relógio
para nos golpear.
Estranho esse amor de agora,
com meu amado atrás de um espelho baço
onde às vezes penso divisar seu vulto
como num aquário.
Enrolado em silêncio,
mais que nunca o meu amor comanda a minha vida.
XV
Não falem alto comigo:
andem sempre na ponta dos pés.
Principalmente, não me toquem.
Finjam que não vêem se tenho um jeito absorto,
se nem sempre entendo as perguntas
com a rapidez de antigamente,
se pareço fatigada
e sem graça como nunca fui.
Façam silêncio ao meu redor.
Não me interessa nada o cotidiano nem o místico.
Não quero discutir o preço do mercado
nem os grandes mistérios da eternidade.
XVI
Levo meu amado no peito
como quem carrega nos braços para sempre
uma criança morta.
XVII
Amado meu, que tanto ensinaste
de mim a mim mesma, e do mundo
a quem o conhecia pouco:
quando se desfizer escura a noite desta perda,
quero enxergar pelos teus olhos,
amar através do teu amor
as coisas que me restaram.
Amado meu, vivo em mim para sempre,
apesar da ruga a mais
e do olhar mais triste,
devo-te isto:
voltar a amar a vida
como agora amas, inteiramente,
a tua morte.
Lya Luft
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